The Lord of the Rings: Return to Moria - Análise

O futuro do Reino.

Sauron caiu, a Terra-média foi salva e enquanto uns celebram a vitória e o novo capítulo de paz da quarta Era, os anões só pensam em restaurar a glória de Khazad-dûm, outrora a jóia do seu antigo império, há muito esquecido e enterrado. Sob o comando de Gimli, a quem John Rhys-Davies voltou a dar voz, pegamos numa picareta e voltamos a Moria, para, pedra a pedra, reerguer uma luz na escuridão do submundo.

Na vanguarda dos anões que regressam a Moria, o nosso primeiro passo é dado com o pé esquerdo, com uma derrocada a prender-nos debaixo do chão, forçando-nos a percorrer o mesmo caminho outrora trilhado pela Irmandade do Anel.

Se os primeiros momentos sugerem uma direção mais ancorada a uma narrativa, também é verdade que não são precisos muitos minutos para descortinar o loop que Return to Moria nos reserva, especialmente se já estiverem familiarizados com o género. A fórmula é simples – muitas vezes é precisamente esse o segredo – e Return to Moria não introduz nada de novo: é tudo um ciclo de angariar recursos, construir ferramentas, angariar novos recursos, construir novas ferramentas e explorar novos biomas, com um toque saudável de combate à mistura.

Nada de inovador neste loop, mas os elementos estão na dose certa – perdi conta às vezes em que me aventurei demasiado fundo, guiado pela vontade de desvendar uma nova sala ou pelo brilho de minério nas paredes, só para acabar rodeado de goblins e orcs.

A grande diferença aqui é que em vez de prados, rios, vales e montanhas, a exploração de Return to Moria é debaixo do solo e algo limitada. Em vez de explorarmos livremente o subsolo, estamos limitados a um mundo gerado de forma aleatória, composto por salas ligadas por túneis. Dando o braço a torcer, admito que seria bastante difícil criar um mundo coerente e funcional se a exploração fosse totalmente livre e imagino que seria um verdadeiro pesadelo explorá-lo. Percebo o compromisso assumido pelo estúdio Free Range Games, ainda que me sinta algo restringido pela decisão.

Ainda que não deslumbre de todo no aspeto gráfico, Return to Moria marca pontos na direção artística. Cada bioma tem uma identidade própria, bem desenhada e característica, não faltando momentos marcantes ao longo do jogo, como a primeira vez que cheguei à forja dos elfos, ou quando fui surpreendido num lago de drenagem.

O ambiente também está bem conseguido – as profundezas são aptamente escuras e somos obrigados a afastar as trevas com uma tocha ou com lanternas, até porque passar demasiado tempo na escuridão é fatal para os anões, devido a uma aflição que nos reduz a vida. O design de som é outro aspeto positivo, (com exceção dos gritos dos goblins, juro que ainda os consigo ouvir) com o ecoar das picaretas pelas paredes das grutas e uma omnipresente reverberação cavernosa, que me fez sentir frio e sem rumo no escuro.

Vais encontrar muitos corredores deste género.

Os fãs mais dedicados do Senhor dos Anéis vão certamente reconhecer as referências, especialmente aquelas ligadas à trilogia de Peter Jackson – que infelizmente pecam por ser poucas tendo em conta a duração do jogo. É possível que também reconheçam as muitas canções que os nossos anões cantam alegremente enquanto minam, nos pilares que escondem segredos e excertos da narrativa ou com uma caneca de cerveja na mão, depois de um árduo dia de muito trabalho.

São momentos deliciosos, que não só prestam homenagem à tradição de Tolkien, que pautou as linhas da sua obra com muitas canções, mas que dão um certo brilho único a Return to Moria, especialmente quando jogado com companhia – e quantos mais anões desafinados melhor, mesmo quando um bug recorrente teima em mudar a voz dos nossos anões.

Graficamente não impressiona, mas a direção artística de Return to Moria é bastante competente - O Elf's Quarter é prova disso.

E falando em bugs, as minas de Moria estão cheias deles. Desde terreno que demora em ser renderizado, a quebras incompreensíveis na performance do jogo, passando por animações estranhas quando trocamos armas de duas mãos, passando por inimigos que volta e meia ficam presos no terreno, agravando a sua nula inteligência artificial.

Estes dois últimos fatores ferem de morte um sistema de combate por si só bastante insípido. Não há muito mais que um par de ataques diferentes por tipo de arma, que se juntam a um movimento de bloqueio, o que resulta numa dança binária, onde oscilamos entre atacar e defender até à exaustão ou até tombarmos os nossos adversários, que tendem em ser demasiados. Entre hordas de orcs e goblins que surgem quando fazemos demasiado barulho ou que são invocados por bosses ou inimigos especiais, o combate torna-se repetitivo muito rapidamente, e nem escavar mais fundo ajuda, o problema é a filosofia de quantidade e simplicidade em vez de qualidade e (alguma) complexidade.

Tal como é habitual no género, vais ter de erguer uma base, embora Return to Moria também ofereça a possibilidade de aproveitar bases abandonadas.

Os problemas de Return to Moria não se ficam por aqui. O mapa também padece de um bug visual que surge quando visitamos o nível inferior das zonas onde nos encontramos, o que dificulta bastante a nossa orientação.

Não obstante estes problemas, Return to Moria consegue ser uma experiência relativamente divertida, especialmente para quem é simultaneamente fã deste género de jogos e da obra de Tolkien. Somei vários momentos genuinamente divertidos ao longo da minha aventura, quando os melhores elementos do jogo entraram em sintonia, como quando decidi mergulhar numa fissura escura, montando várias plataformas e escadas à procura de jóias preciosas; ou quando numa luta desesperada contra um troll, este ficou petrificado depois de passar por debaixo de um feixe de sol. É uma pena que tenha de peneirar tanto para encontrar estes momentos brilhantes.

Veredito

Lord of The Rings: Return to Moria não mexe na fórmula que já conhecemos dos jogos de survival. A aposta na narrativa de Tolkien oferece bons momentos, ainda que ancorada a uma progressão relativamente linear, levemente polvilhada com referências à jornada da Irmandade do Anel. Os bugs e o combate exagerademente básico enterram em demasia a diversão que o jogo pode oferecer, ainda assim, os fãs de survivals e do Senhor dos Anéis que estiverem dispostos a peneirar estes problemas podem encontrar algumas pepitas de ouro.

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The Lord of The Rings: Return To Moria - Análise

6
Okay
Demasiado básico para se destacar no género, The Lord of The Rings: Return to Moria oferece algumas horas de diversão, especialmente na companhia de mais uns quantos anões.
The Lord of the Rings: Return to Moria