Em fevereiro de 2014, o Facebook comprou o serviço de mensagens WhatsApp por US$ 19 bilhões. O valor da aquisição foi surpreendente para um aplicativo que ainda gerava pouco dinheiro e era muito popular fora dos Estados Unidos.
No entanto, a revelação de novos e-mails e gráficos confidenciais do Facebook podem explicar por que Mark Zuckerberg gastou uma pequena fortuna com o aplicativo de mensagens. Durante meses, a empresa rastreou atentamente o WhatsApp utilizando o Onavo, um aplicativo de VPN (rede privada virtual) e análise de dados que apontava que o serviço de mensagens, além de ser um concorrente em ascensão, tinha potencial para acabar com o Facebook.
Os gráficos "altamente confidenciais" — que fazem parte de um conjunto de documentos divulgados recentemente pelo Comitê Parlamentar Britânico para a Cultura, o Meio Digital, a Mídia e o Esporte (DCMS) — revelam que o WhatsApp apresentava um potencial extraordinário entre os aplicativos de troca de mensagens no início dos anos 2010.
Os documentos, obtidos pelo DCMS de um desenvolvedor de aplicativos que está processando o Facebook na Califórnia (EUA), expuseram várias práticas antes desconhecidas do público usadas pelas redes sociais entre 2012 e 2015, incluindo o fornecimento de dados dos usuários a grandes aplicativos parceiros.
Os e-mails e documentos também revelam que Zuckerberg já chegou a pensar em cobrar os desenvolvedores pelo acesso aos dados dos usuários, embora essa política nunca tenha sido implementada.
Ainda que o Facebook (e posteriormente o Instagram, que foi adquirido por Zuckerberg) aparecesse em primeiro lugar nos gráficos do Onavo sobre os apps usados nos EUA, o WhatsApp apresentava um crescimento contínuo em termos de alcance de mercado, superando outros aplicativos populares, como Tumblr, Foursquare, Vine e Google+, e aproximando-se do Pinterest.
O mais importante, no entanto, é que os dados do Onavo de abril de 2013 revelaram que o WhatsApp estava ultrapassando com folga o Facebook Messenger em determinadas áreas. Outro gráfico confidencial agora divulgado mostra que a troca de mensagens pelo WhatsApp chegava a 8,2 bilhões por dia, enquanto o Facebook Messenger (na versão móvel) aparecia com 3,5 bilhões.
Do mesmo modo, os gráficos do Onavo revelaram que o WhatsApp também estava ultrapassando o Facebook em tempo de engajamento.
A ascensão do WhatsApp veio em um momento crucial — quando o Facebook voltou suas ambições aos dispositivos móveis e à troca de mensagens —, demonstrando que o app seria um forte concorrente.
Além disso, na época, o serviço de mensagens — que não tinha o alcance de mercado do Facebook — atraía uma atenção limitada. E, com o aparecimento de outros aplicativos semelhantes, como WeChat, Kik, Line e Viber, que apresentaram promissores sinais de crescimento (especialmente em mercados como a Ásia), o Facebook enxergou vulnerabilidade e oportunidade para a compra do WhatsApp.
E, com o Facebook, o Onavo viu uma oportunidade para si mesmo. A empresa, que começou como uma solução de VPN e compilação de dados, rapidamente provou seu valor como provedora de análise de dados, rastreando o uso de aplicativos em centenas de milhares de dispositivos.
Ao identificar as tendências do uso de dispositivos móveis, o Onavo se tornou uma ferramenta crucial para Zuckerberg observar seus concorrentes. O único problema? Os dados não eram exclusivos do Facebook. Mas tudo isso mudou em outubro de 2013, quando a rede social comprou o Onavo por US$ 100 milhões.
Ao adquirir o Onavo e torná-lo uma ferramenta privada, a empresa tirou de circulação um dos melhores caminhos para compreender as tendências dos dispositivos móveis fora do ecossistema do Facebook. A rede social ficou livre para rastrear o uso e as tendências de aplicativos até mesmo nos estágios mais iniciais. Se uma possível ameaça estivesse em ascensão, o Facebook poderia hipoteticamente detectá-la antes de todos.
Cinco meses depois, em fevereiro de 2014, o Facebook comprou o WhatsApp.
A tradução deste post (original em inglês) foi editada por Luísa Pessoa.