Conto de Warcraft: “O Lilás e a Pedra”

por Blizzard Entertainment em June 17th às 5:00pm

A Rainha Regente Moira Thaurissan está exausta. Seu filho, Dagran II, está crescendo rápido e há de herdar a liderança tanto do clã Ferro Negro quanto do Barbabronze. Mas Dagran vive lendo e é diferente: ele prefere a companhia de sua biblioteca à liderança. Poderá Moira inspirar seu filho a tomar o que lhe é de direito, ou seus medos quanto ao futuro dele — e dos clãs — se concretizarão?

Dentre todos os pedregulhos ásperos e insensíveis de nosso povo, Dagran sempre foi minha flor.

Para o bem ou para o mal.

Poucos imaginam quanto custa a uma alma delicada nascer anã. Talvez seja pior até que vir a este mundo com uma alma de filha, em vez de filho, afivelada ao corpo. Esse único lance de dados determinou muito de minha vida antes de meu punho ir de encontro à trança de minha mãe pela primeira vez. Meu corpo me sabotou desde o primeiro suspiro: era de anã, ou seja, não era o que meu pai queria.

Eu sou Moira Thaurissan, filha de Magni Barbabronze e sua noiva, Eimear, princesa de Altaforja, viúva do Imperador Ferro Negro, mãe de seu herdeiro, Dagran II, e sinto raiva desde que completei idade para seguir o caminho disposto à minha frente. Às vezes, acho que minha raiva não morrerá junto comigo. Que jogarão a terra sobre meu corpo e, muito depois que eu tiver sido esquecido, uma joia negra, brutal e enrijecida, saída de minha carcaça, abrirá caminho por entre o limo, chiando, num calor escaldante. Talvez sirva para aquecer um povoado por aí. Uma eternidade de lareiras aconchegantes e ensopados preparados com a fúria amarga que carreguei mas jamais pude satisfazer. Eu gosto da ideia.

Por muito tempo, trouxe minha raiva no peito, reluzente como as gemas daquele escudo pelo qual vivem brigando. Como se pudesse me servir de escudo, como se pudesse servir de escudo a alguém. Com o tempo aprendi que a raiva que se mostra acaba toda desperdiçada. Só faz deixar os outros em guarda, temerosos ou insolentes, faz com que fiquem na defensiva, alimenta rumores de loucura e murmúrios de revolta, vai cegando o próprio gume, já que até o medo se desgasta pelo uso. Então aprendi a deixar essa gema-escudo dentro de mim, empurrando a raiva para as cavernas profundas do meu coração, comprimindo-a num geodo encrostado de dor, tudo para que o povo do meu marido gostasse um pouquinho mais de mim. Todos os meus erros vieram desse lugar horrendo e escaldante que há dentro de mim. Às vezes... Pergunto-me quem eu teria sido sem ele.

Leia e baixe o resto deste conto, escrito por Catherynne M. Valente