Mostrar código-fonte de Leonardo da Vinci

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{{Info/Biografia
|nome             =Leonardo da Vinci
|nome_completo    =Leonardo di Ser Piero da Vinci
|imagem           =Francesco_Melzi_-_Portrait_of_Leonardo.png
|tamanho          =250px
|legenda          =Retrato de Leonardo da Vinci atribuido a [[Francesco Melzi]].<ref>{{citation|url=https://www.rct.uk/collection/search#/21/collection/912726/a-portrait-of-leonardo|título=A portrait of Leonardo|publicado=Royal Collection Trust|acessodata=26 de maio de 2019}}</ref>
|nascimento_data  ={{dni|15|4|1452|si}}
|nascimento_local =[[Anchiano]], [[República de Florença]] (atualmente [[Itália]])
|morte_data       ={{morte|nowrap=s|2|5|1519|15|4|1452}}
|morte_local      =[[Amboise]], [[França]]
|ocupação         =atuou em diversas áreas, como [[pintura|pintor]], [[escultura|escultor]], [[arquiteto]], [[engenheiro]], [[matemático]], [[fisiólogo]], [[químico]], [[botânico]], [[geólogo]], [[cartografia|cartógrafo]], [[físico]], [[mecânico]], [[inventor]], [[Anatomia|anatomista]], [[escritor]], [[poeta]] e [[música|músico]]
|escola           =[[Verrocchio|Ateliê de Verrocchio]]<br>[[Pintura Italiana]]
|movimento_estético   =[[Renascimento|Alto Renascimento]]
|principais_trabalhos =''[[Mona Lisa]]''<br>''[[A Última Ceia (Leonardo da Vinci)|A Última Ceia]]''<br>''[[A Virgem das Rochas]]''<br>''[[Homem Vitruviano (desenho de Leonardo da Vinci)|Homem Vitruviano]]''
|assinatura           =[[Imagem:Firma de Leonardo Da Vinci.svg|230px|"Eu, Leonardo"]]
}}
'''Leonardo di Ser Piero da Vinci''' ({{Audio|it-Leonardo di ser Piero da Vinci.ogg|pron.}}), ou simplesmente '''Leonardo da Vinci''' ([[Anchiano]], [[15 de abril]] de [[1452]]<ref name="leo">{{citar web|url=https://www.britannica.com/biography/Leonardo-da-Vinci|título=Leonardo da Vinci|editor=[[Enciclopédia Britânica]]|acessodata=18 de novembro de 2019}}</ref> — [[Amboise]], [[2 de maio]] de [[1519]]), foi um [[polímata]] nascido na atual [[Itália]],<ref name="leo"/>{{#tag:ref|Em meados do {{séc|XV}}, a [[Itália]] não era propriamente um país, sendo formada por pequenos reinos e [[cidade-Estado|cidades-Estado]] independentes, cada qual com o seu próprio soberano, moeda, leis e exércitos. Essas cidades se desenvolviam comercial e culturalmente, visando a ideia amplamente difundida pelos Médicis de tornarem-se centros culturais e exemplos, e, assim, alcançar a imortalidade.<ref name="abril"/> |group="nb"}} uma das figuras mais importantes do [[Alto Renascimento]],<ref name="leo"/> que se destacou como [[Ciências|cientista]], [[Matemática|matemático]], [[Engenharia|engenheiro]], [[inventor]], [[Anatomia|anatomista]], [[Pintura|pintor]], [[Escultura|escultor]], [[Arquitetura|arquiteto]], [[Botânica|botânico]], [[poeta]] e [[Música|músico]].<ref name="abril">''Gênios da pintura'', vol. I. São Paulo, Abril Cultural, 1967</ref><ref>Bramly, Serge. ''Leonardo da Vinci''. Rio de Janeiro, Imago, 1989</ref><ref name="Bio">{{Citar web|url=http://www.leonardodavinci.com.br/pag.asp?id=13|título=Biografia de Leonardo. ()|acessodata=18 de fevereiro de 2009|arquivourl=https://web.archive.org/web/20081224150211/http://www.leonardodavinci.com.br/pag.asp?id=13#|arquivodata=24 de dezembro de 2008|urlmorta=yes}}</ref> É ainda conhecido como o precursor da [[aviação]] e da [[balística]].<ref name="abril"/> Leonardo frequentemente foi descrito como o [[arquétipo]] do homem do [[Renascimento]], alguém cuja curiosidade insaciável era igualada apenas pela sua capacidade de invenção.<ref name=HG>{{citation|primeiro=Helen|último=Gardner|título=Art through the Ages|ano=1970|publicado=Harcourt, Brace and World}}</ref> É considerado um dos maiores pintores de todos os tempos e, possivelmente, a pessoa dotada de talentos mais diversos a ter vivido.<ref name=genius>Vasari, Boltraffio, Castiglione, "Anonimo" Gaddiano, Berensen, Taine, Fuseli, Rio, Bortolon, etc. Ver citações específicas sob o título "Leonardo, a lenda".</ref> Segundo Helen Gardner, [[História da arte|historiadora de arte]], a profundidade e o alcance de seus interesses não tiveram precedentes e "sua mente e personalidade parecem sobre-humanos para nós, e o homem em si [nos parece] misterioso e distante".<ref name=HG/>

Nascido como filho ilegítimo de um [[notário]], Piero da Vinci, e de uma [[camponês|camponesa]], [[Caterina di Meo Lippi|Caterina]], em [[Vinci]], na região da [[Florença]], foi educado no [[ateliê]] do renomado pintor florentino, [[Verrocchio]]. Passou a maior parte do início de sua vida profissional a serviço de [[Ludovico Sforza]] (''Ludovico il Moro''), em [[Milão]]; trabalhou posteriormente em [[Veneza]], [[Roma]] e [[Bolonha]], e passou seus últimos dias na [[França]], numa casa que lhe foi presenteada pelo rei [[Francisco I da França|Francisco I]]. Leonardo era, como até hoje, conhecido principalmente como pintor.<ref name=genius/> Duas de suas obras, a ''[[Mona Lisa]]''<ref name="leo"/> e ''[[A Última Ceia (Leonardo da Vinci)|A Última Ceia]]'',<ref name="leo"/> estão entre as pinturas mais famosas, mais reproduzidas e mais parodiadas de todos os tempos, e sua fama se compara apenas à ''[[Criação de Adão]]'', de [[Michelangelo]].<ref name=HG/> O desenho do ''[[Homem Vitruviano]]'', feito por Leonardo, também é tido como um ícone cultural,<ref>Vitruvian Man é descrito como "icônico" nos seguintes sites: [http://www.italian-renaissance-art.com/Vitruvian-Man.html Vitruvian Man], [http://artpassions.com/art/1109-Fine-Art-Classics/0000067329-Leonardo-Da-Vinci-Vitruvian-Man.html Fine Art Classics], [http://www.timeshighereducation.co.uk/story.asp?storyCode=403230&sectioncode=26 Key Images in the History of Science] (''[[The Times|Times Higher Education]]''); [http://www.ingenious.org.uk/read/identity/bodyimage/Curiosityanddifference/ Curiosity and difference]; [http://www.guardian.co.uk/artanddesign/2006/aug/30/art1 The Real da Vinci Code] (''[[The Guardian]]'')</ref> e foi reproduzido por todas as partes, desde o [[euro]] até [[camiseta]]s. Cerca de quinze de suas pinturas sobreviveram até os dias de hoje; o número pequeno se deve às suas experiências constantes — e frequentemente desastrosas — com novas técnicas, além de sua procrastinação crônica.<ref group="nb">Existem 15 obras de arte significativas que são creditadas, tanto inteira, como parcialmente, a Leonardo pela maioria dos historiadores da arte. Este número é formado, principalmente, por pinturas realizadas sobre madeira, mas, também incluem um [[mural]], um desenho grande feito em papel e duas obras que estavam em estágios iniciais de seu preparo. Existem diversas outras obras que lhe foram atribuídas, sem a unanimidade dos acadêmicos.</ref> Ainda assim, estas poucas obras, juntamente com seus cadernos de anotações — que contêm desenhos, diagramas científicos, e seus pensamentos sobre a natureza da pintura — formam uma contribuição às futuras gerações de artistas que só pode ser rivalizada à de seu contemporâneo, Michelangelo.{{#tag:ref|Segundo o crítico de arte britânico, Jonathan Jones, antigo juiz do Prêmio Turner, autoridades florentinas teriam ocasionado uma competição entre Leonardo e Michelangelo, evento que, segundo ele, é de conhecimento dos historiadores, embora pouco discutido. Em seu livro ''The Lost Batles: Leonardo, Michelangelo and the artistic duel that defined renaissance'' discute como uma possível competição se desenrolou em torno dos afrescos de ''[[Batalha de Anghiari|A Batalha de Anghiari]]'' e ''A Batalha de Cascina'', de Leonardo e Michelangelo, respectivamente, e, apesar de ambos ficarem inconclusos, como Michelangelo teria ganhado a competição em 1506 lhe garantindo uma reputação — o que mais tarde poderia ter resultado na sua participação na [[Capela Sistina]]. O autor acredita que a história tenha compensado a derrota de Leonardo, o que foi muito reforçado no {{séc|XIX}}, com a redescoberta de seus cadernos e junto sua genialidade.<ref>{{Citar web|url=http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/03/30/livro-indaga-quem-foi-maior-michelangelo-ou-leonardo-da-vinci-916212275.asp|título=Livro indaga quem foi maior, Michelangelo ou Leonardo da Vinci?|autor=O Globo|data=30-03-2010|acessodata=13 de abril de 2010}}</ref>|group="nb"}}

Da Vinci é reverenciado pela sua engenhosidade tecnológica;<ref name=genius/> concebeu ideias muito à frente de seu tempo, como um protótipo de [[helicóptero]], um [[Carro de combate|tanque de guerra]], o uso da [[energia solar]], uma [[calculadora]], o casco duplo nas embarcações, e uma teoria rudimentar das [[placas tectônicas]].<ref>{{Citar web|url=https://web.archive.org/web/20061120095850/http://mathsforeurope.digibel.be/addi0000.htm|título=Replica of Leonardo's Adding Machine|editor=mathsforeurope.digibel.be|acessodata=19 de novembro de 2019}}</ref> Um número relativamente pequeno de seus projetos chegou a ser construído durante sua vida (muitos nem mesmo eram factíveis),<ref group="nb">Técnicas científicas modernas como a [[metalurgia]] e a [[engenharia]] ainda estavam em sua infância durante o Renascimento,</ref> mas algumas de suas invenções menores, como uma [[Enrolamento|bobina]] automática, e um aparelho que testa a resistência à tração de um fio, entraram sem crédito algum para o mundo da indústria.<ref group="nb">Diversas das invenções mais práticas de Leonardo são exibidas como modelos de trabalho no Museu de Vinci.</ref> Como cientista, foi responsável por grande avanço do conhecimento nos campos da [[anatomia]], da [[engenharia civil]], da [[óptica]] e da [[hidrodinâmica]]. Leonardo da Vinci é considerado por vários o maior gênio da história,<ref>{{citar web|título=Leonardo da Vinci: mankind’s greatest genius|url=http://www.telegraph.co.uk/art/london-culture/leonardo-da-vinci-mankinds-greatest-genius/|publicado=[[The Daily Telegraph]]|acessodata=14 de janeiro de 2017|data=6-10-2015|língua=en}}</ref><ref>{{citar web|título=Leonardo da Vinci named as science's greatest genius|url=http://www.sciencefocus.com/news/leonardo-da-vinci-named-sciences-greatest-genius|publicado=BBC Focus Magazine|acessodata=14 de janeiro de 2017|data=2 de julho de 2014|língua=en}}</ref><ref name="She">{{citar web|url=https://books.google.com.br/books?id=NTuHOmho2AUC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false|sobrenome=NULAND|nome=Sherwin B.|título=Leonardo da Vinci|ano=2005|editora=Penguin Books|local=Nova Iorque|isbn=9781440679278|páginas=176}}</ref><ref>{{citar web|título=Leonardo Da Vinci: Greatest Genius To Ever Live|url=https://www.ukessays.com/essays/history/leonardo-da-vinci-greatest-genius-to-ever-live-history-essay.php|localização=Nottingham, Reino Unido|acessodata=14 de janeiro de 2017|data=23 de março de 2015|língua=en|arquivourl=https://web.archive.org/web/20170118061707/https://www.ukessays.com/essays/history/leonardo-da-vinci-greatest-genius-to-ever-live-history-essay.php#|arquivodata=18 de janeiro de 2017|urlmorta=yes}}</ref> devido a sua multiplicidade de talentos para ciências e artes, sua engenhosidade e criatividade, além de suas obras polêmicas. Num estudo realizado em 1926 seu [[QI]] foi estimado em cerca de 180.<ref>Sharp, Evelyn. ''The IQ cult'', Coward, McCann & Geoghegan, 1972</ref><ref>Salazar, Horacio. ''El ombligo de Edipo'', Fondo Editorial de Nuevo León, 1991 ISBN 968-6211-30-6, ISBN 978-968-6211-30-6</ref>

== Biografia ==
=== Genealogia ===
[[Imagem:Geburtshaus_von_Leonardo_da_Vinci_in_Vinci_(Toskana).jpg|thumb|Possível casa de infância de Leonardo, em [[Anchiano]]]]
Leonardo nasceu em 15 de abril de 1452, "na terceira hora da noite",{{#tag:ref|A terceira hora da noite era 10:30&nbsp;pm, três horas depois da recitação da oração da [[Ave Maria]].<ref name="leo"/> |group="nb"}} de um sábado,<ref group="nb">No chamado tempo italiano a primeira hora iniciava com o [[pôr-do-sol]]; as horas eram numeradas de 1 a 24. Essa forma de contar as horas possuía a vantagem de mostrar facilmente quantas horas ainda restavam sem a necessidade do uso de luz artificial. Foi introduzida na Itália durante o {{séc|XIV}} e foi de uso comum até o meio do {{séc|XVIII}}, ou mesmo até o meio do {{séc|XIX}} em algumas regiões.</ref> no vilarejo de [[Anchiano]], na [[comuna italiana]] de [[Vinci]], na [[Toscana]], situada no vale do [[rio Arno]], dentro do território dominado à época por [[Florença]].<ref name=SerA>Seu nascimento foi registrado no diário de seu avô paterno ''Ser'' Antonio, como é citado por della Chiesa. O pai de Piero narra informações básicas, como data e hora do nascimento de Leonardo, assim como o batizado e testemunhas ou padrinhos.</ref> Era filho ilegítimo de ''Messer'' Piero Fruosino di Antonio da Vinci, um [[notário]] florentino<ref>{{Citar livro|autor1=Della Chiesa|autor2=Angela Ottino|título=The Complete Paintings of Leonardo da Vinci|edição=|editora=Penguin|ano=1967|isbn=0-14-008649-8}}</ref><ref name="Kemp">Kemp, Martin. ''[https://books.google.com.br/books?id=CYj6W5a-lg8C&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false Leonardo da Vinci]''. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2005. p. 23. ISBN 85-7110-844-7, ISBN 978-85-7110-844-8</ref> e [[Caterina di Meo Lippi]], uma órfã de 15 anos,<ref>[https://www.livescience.com/59454-identity-of-leonardo-da-vinci-mother.html?utm_source=notification Renaissance Mom: Leonardo Da Vinci's Mother Identified] por Megan Gannon (2017)</ref> camponesa<ref name="leo"/> que pode ter sido uma [[Escravidão|escrava]] oriunda do [[Oriente Médio]].<ref group="nb">De acordo com Alessandro Vezzosi, diretor do Museu Leonardo, em Vinci, existem provas de que Piero seria proprietário de uma escrava do Oriente Médio chamada Caterina, e que lhe teria dado um filho chamado Leonardo. A afirmação de que Leonardo teria sangue do Oriente Médio foi corroborada pela reconstrução de uma de suas [[impressão digital|impressões digitais]], como relatada por Marta Falconi, jornalista da [[Associated Press]], ''"[http://www.foxnews.com/wires/2006Dec01/0,4670,LeonardoapossFingerprint,00.html Experts Reconstruct Leonardo Fingerprint]"'', ''[[Fox News]]'', 12 de dezembro de 2001.</ref>{{#tag:ref|Essa hipótese foi refutada por Simon Cole, professor associado de criminologia, lei e sociedade na [[Universidade da Califórnia]] em Irvine, pois não se pode predizer a origem étnica de uma pessoa a partir desse tipo de estudo<ref>{{citation|url=http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2006/12/01/AR2006120100961_pf.html|título=Experts Reconstruct Leonardo Fingerprint|publicado=The Associated Press|acessodata=14 de dezembro de 2007}}</ref> e por fim desfeita quando os pesquisadores Martin Kemp e Giuseppe Pallanti descobriram provas documentais de que ela era uma camponesa da região.<ref>{{citar livro|ultimo=Isaacson|primeiro=Walter|data=2017|titulo=Leonardo da Vinci|local=Rio de Janeiro|editora=[[Intrínseca]]|pagina=31|isbn=978-85-510-0257-5}}</ref>|group="nb"}} Leonardo não tinha um [[sobrenome]] no sentido atual; "''da Vinci''" significa simplesmente "de [[Vinci]]": seu nome completo de batismo era ''"Leonardo di ser Piero da Vinci"'', que significava "Leonardo, (filho) de (''Mes'')''ser'',<ref group="nb">Algo como "senhor" ou "seu".</ref> Piero de Vinci".<ref name=SerA/>

Estudos genealógicos recentes afirmam que possuía cerca de vinte e dois meio-irmãos.<ref>{{Citar web|ultimo=Digital|primeiro=Olhar|url=https://olhardigital.com.br/2021/07/08/ciencia-e-espaco/leonardo-da-vinci-tem-14-descendentes-vivos-diz-estudo-de-dna/|titulo=Leonardo da Vinci tem 14 descendentes vivos, diz estudo de DNA|data=2021-07-08|acessodata=2021-07-08|website=Olhar Digital|lingua=pt-BR}}</ref>

=== Infância, 1452–1468 ===
[[Imagem:Leonardo da Vinci statue outside the Uffizi Gallery.jpg|thumb|esquerda|upright|Estátua de ''Leonardo da Vinci'' na [[Galleria degli Uffizi]]]]

Pouco se sabe da infância de Leonardo. Provavelmente passou os seus primeiros quatro ou cinco anos no [[Frazione|vilarejo]] de [[Anchiano]], e depois do casamento de sua mãe com um lavrador de nome Accattabriga di Piero del Vaca, arranjado por Piero pouco após o nascimento do filho,<ref>{{citar livro|ultimo=Isaacson|primeiro=Walter|data=2017|titulo=Leonardo da Vinci|local=Rio de Janeiro|editora=[[Intrínseca]]|pagina=32|isbn=978-85-510-0257-5}}</ref> mudou-se para a casa da família de seu pai então casado com uma jovem de dezesseis anos chamada Albiera di Giovanni Amadori,<ref name="She"/> com a qual Leonardo tinha uma boa relação, a quem chamava de madrinha, em companhia de seu avô, Antonio, e tio, Francesco, na paróquia de Santa Croce em Vinci, em um ambiente bucólico aconchegante, o que é significativo na personalidade de um Leonardo ligado a natureza.{{#tag:ref|Este possível acontecimento da criação exclusiva de Leonardo por Caterina no início de sua infância é a base de estudos como o ensaio sobre Leonardo da Vinci realizado por [[Sigmund Freud]], em que afirma que Leonardo era homossexual.<ref name="She"/> |group="nb"}} Albiera morreu muito cedo sem filhos. A morte do seu avô Antonio a quem muito estimava deu-se logo após em 1468,<ref name="abril"/> e Leonardo apesar de ilegítimo continuará filho único no segundo casamento do seu pai Piero, com Francesca di Giuliano Lanfredini; testemunharia a mais dois casamentos deste, até que em 1476, quando viviam em [[Florença]], Piero teve o tão esperado filho legítimo.<ref name="girassol">''Leonardo da Vinci'', Coleção gênios da arte / [tradução Mathias de Abreu Lima Filho]. -- Barueri, SP : ed. Girassol; Madri: Susaeta Ediciones, 2007.</ref> Em sua vida adulta, Leonardo só se recordaria de dois incidentes de sua infância, um deles, tinha como presságio:

{{quote|Parece-me que sempre fui destinado a me interessar muito profundamente por falcões, pois lembro-me como uma de minhas primeiras recordações que, quando estava no berço, um falcão desceu sobre mim e abriu-me a boca com a cauda, e me bateu muitas vezes entre os lábios com ela.<ref name="She"/>}}

O segundo ocorreu enquanto ele brincava nas montanhas da região, e ''depois de vagar por alguma distância entre as rochas projetadas acima, cheguei à boca de uma imensa caverna, diante da qual me quedei por algum tempo estupefato, pois ignorava a sua existência (…) e após ficar ali algum tempo, de repente despertaram dentro de mim duas emoções — medo e desejo — medo da escura e ameaçadora caverna, desejo de ver se haveria alguma coisa maravilhosa lá dentro.''<ref name="She"/>

A infância e a juventude de Leonardo foram tema de diversas conjunturas históricas.<ref>{{Citar livro|autor=Hugh Brigstocke|título=The Oxford Companion the Western Art|local=Estados Unidos|editora=Oxford University Press|ano=2001|isbn=0198662033}}</ref> [[Giorgio Vasari]], [[Biografia|biógrafo]] do {{séc|XVI}} que escreveu sobre os pintores do [[Renascimento Italiano]],<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Vidas_Dos_Artistas.html?id=w5k6zgEACAAJ&redir_esc=y|título=Vidas Dos Artistas|ultimo=Vasari|primeiro=Giorgio|data=2020|editora=Wmf Martins Fontes|lingua=pt}}</ref> conta como um camponês local teria pedido a ''Ser'' Piero que mandasse seu filho pintar um quadro numa placa redonda ou escudo. Leonardo respondeu com uma pintura de [[serpente]]s soltando [[fogo]] — ou mesmo um [[dragão]] — tão terrível e mesmo assim tão surpreendente que ''Ser'' Piero decidiu vender a um negociante de arte florentino que, por sua vez, a vendeu ao [[Ducado de Milão|Duque de Milão]]. Enquanto isso, com parte do lucro da venda, ''Ser'' Piero comprou uma placa, decorada com um [[coração]] penetrado por uma [[flecha]], que ele deu ao camponês.<ref name=Vasari>{{Citar web|url=https://books.google.com.br/books?id=4OLwqoXOgPoC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false|autor=G. Vasari|título=Lives of the Artists|idioma=inglês |edição=1568|editora=Penguin Classics|ano=1965|isbn=0-14-044164-6}} Trad. para o inglês de George Bull</ref> Leonardo tornou-se um jovem instruído e sempre referido pelos estudiosos como dono de uma bela aparência de fartos cabelos louros e olhos claros, além de uma personalidade afável com o trato das pessoas.<ref name="online">''Leonardo da Vinci, vida e obra de um dos maiores gênios da história''. Coleção grandes mestres da pintura, Ed. On Line, São Paulo, SP.</ref>

=== Ateliê de Verrocchio, 1469–1476 ===
[[Imagem:Andrea del Verrocchio, Leonardo da Vinci - Baptism of Christ - Uffizi.jpg|thumb|upright|''[[O Batismo de Cristo]]'', de [[Verrocchio]] e Leonardo, 1472–1475; [[Galleria degli Uffizi]]]]

Na sua adolescência, Leonardo foi fortemente influenciado por duas grandes personalidades da época, [[Lourenço de Médici]] e o grande artista [[Andrea del Verrocchio]]. Em 1469, com dezessete anos, Leonardo passou a ser aprendiz de um dos mais bem-sucedidos artistas de seu tempo, Andrea di Cione, conhecido como Verrocchio (''Olho verdadeiro'').<ref name="She"/> O ateliê de Verrocchio estava no centro das correntes intelectuais de Florença, o que garantiu ao jovem Leonardo uma educação nas [[ciências humanas]]. Outros pintores famosos que passaram por um aprendizado neste mesmo ateliê foram [[Ghirlandaio]], [[Perugino]], [[Botticelli]] e [[Lorenzo di Credi]]. Leonardo foi exposto desde cedo a uma vasta gama de técnicas, e teve a oportunidade de aprender [[desenho técnico]], [[química]], [[metalurgia]], [[mecânica]], [[carpintaria]], a trabalhar com materiais como [[couro]] e metal, fazer [[Moldagem|moldes]], além das técnicas artísticas de desenho, pintura, escultura e modelagem.<ref name=AM>{{citation|primeiro=Andrew|último=Martindale|título=The Rise of the Artist|publicado=Thames and Hudson|isbn=0500560064}}</ref><ref>Theophilus ''On Divers Arts'', tradutores: J. G. Hawthorne and C.S. Smith, University of Chicago Press, 1963; reprinted New York: Dover Publications 1979. Manual prático medieval de técnicas para o artesão, e inclui uma descrição breve de como se misturar tinta a óleo.</ref><ref>Cennino d’A. Cennini ''Il Libro dell’ Arte'', ed. D. V. Thompson Jr. (1933) New Haven: Yale University Press. Uma guia prático da pintura no início do {{séc|XIV}}.</ref>

Boa parte da produção de pinturas do ateliê de Verrocchio era feita por seus funcionários. De acordo com Vasari, Leonardo colaborou com Verrocchio em seu ''[[O Batismo de Cristo]]'', pintando o jovem [[anjo]] da esquerda, que segura a túnica de [[Jesus]] de maneira tão superior ao seu próprio mestre que Verrocchio teria decidido nunca mais pintar.<ref name=Vasari/> Isto provavelmente é um exagero; mas um exame atento da pintura mostra que existem diversos retoques feitos sobre a [[Têmpera (pintura)|têmpera]] utilizando a nova técnica de [[pintura a óleo]], como o cenário, as rochas que podem ser vistas ao fundo e boa parte da figura do próprio Jesus, todas testemunhas da mão de Leonardo.<ref name="leo"/>

O próprio Leonardo pode ter sido o modelo para duas obras de Verrocchio, incluindo a [[estátua]] de [[bronze]] de ''[[David (Verrocchio)|David]]'', no [[Bargello]], e o [[Arcanjo]] em ''[[Tobias e o Anjo (Verrocchio)|Tobias e o Anjo]]''. Na altura apenas se disse que a estátua de [[David]] tinha sido inspirada num dos mais belos aprendizes do atelier de Verrocchio.<ref name="leo"/>

Em 1472, com vinte anos de idade, Leonardo se qualificou para o cargo de mestre na [[Guilda de São Lucas]], uma [[guilda]] de artistas e doutores em [[medicina]],{{#tag:ref|Que Leonardo teria se juntado à guilda até mesmo antes deste período pode ser deduzido de registros de pagamentos feitos à ''Compagnia di San Luca'' no livro de registros da companhia, o Libro Rosso A, 1472–1520 (Accademia di Belle Arti).<ref name="leo"/> |group="nb"}} porém mesmo depois de seu pai ter montado seu próprio ateliê, sua ligação com Verrocchio permaneceu tal que ele continuou a colaborar com ele. Aos poucos, as pessoas da corte passam a fazer encomendas diretamente a Leonardo. Sua obra mais antiga a ser datada é um desenho em [[pena]] e [[tinta]] do vale do [[rio Arno|Arno]], feito em 5 de agosto de 1473.<ref group="nb">Esta obra está atualmente na coleção dos [[Uffizi]], Desenho n.º 8P.</ref>

=== Vida profissional, 1476–1513 ===
[[Imagem:Leonardo da Vinci - Adorazione dei Magi - Google Art Project.jpg|thumb|esquerda|''[[A Adoração dos Magos (Leonardo da Vinci)|A Adoração dos Magos]]'', (1481–1482) — [[Uffizi]]. Em março de 1481, a Leonardo foi encomendada esta pintura, pelos monges de São Donato Scopeto em [[Florença]]. O notário do mosteiro era o pai de Leonardo, e é muito provável que tenha induzido os monges a contratar seu filho.<ref name="Richard">''La vida de Leonardo da Vinci, genio, artista, ingeniero, arquitecto y hombre.'' Richard Friedenthal. Biblioteca Salvat de Grandes Biografías. ISBN 98-345-8235-X</ref>]]
[[Imagem:Leonardo_retrata_a_la_Gioconda,_por_Cesare_Maccari.jpg|esquerda|thumb|Leonardo da Vinci pintando a [[Mona Lisa]]]]

Em 1476, Leonardo da Vinci, juntamente com mais três alunos do ateliê de Verrocchio, foram acusados de [[sodomia]];<ref group="nb">Atos [[Homossexualidade|homossexuais]] eram ilegais na Florença da época.</ref> segundo a acusação referente a Leonardo, ele teria tido relações homossexuais com [[Jacopo Saltarelli]], um jovem de 17 anos muito popular à época em [[Florença]] como prostituto.<ref name="She"/> Diante, no entanto, da falta de provas concretas que confirmassem semelhante acusação contra Leonardo e outros três rapazes, além de um deles ser membro de uma família com conexão aos Médici, o caso foi arquivado "com a condição de que não fossem feitas novas acusações".<ref name="nardini">{{citation|título=A History of Celibacy|primeiro=Elizabeth|último=Abbott|ano=2001|publicado=Da Capo Press|isbn=0306810417|página=340}}</ref><ref name=AcuW>{{citar livro|ultimo=Isaacson|primeiro=Walter|data=2017|titulo=Leonardo da Vinci|local=Rio de Janeiro|editora=[[Intrínseca]]|pagina=88-89|isbn=978-85-510-0257-5}}</ref> Porém, algumas semanas depois, surgiu uma nova acusação em Latim, que foi retirada por falta de testemunhas com a mesma condição de antes.<ref name=AcuW/> A partir desta data até 1478 não existem registros nem de obras suas nem de seu paradeiro,<ref name="everything">{{citation|título=The Everything Da Vinci Book: Explore the Life and Times of the Ultimate Renaissance Man|primeiro=Shana|último=Priwer|primeiro2=Cynthia|último2=Phillips|ano=2006|publicado=Adams Media|isbn=1598691015|páginas=245}}</ref> embora se costuma presumir que Leonardo tenha estado no ateliê, em Florença, entre 1476 e 1481.<ref name="leo"/> Em 1478 foi-lhe encomendada a pintura de um [[retábulo]] para a Capela de São Bernardo, e a ''[[A Adoração dos Magos (Leonardo da Vinci)|Adoração dos Magos]]'', em 1481, para os [[monge]]s de San Donato a Scopeto. Esta importante encomenda foi interrompida com a ida de Leonardo para [[Milão]].<ref>{{citar web|url=http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/leonardo-da-vinci/leonardo-da-vinci.php|título=Leonardo da Vinci|data=2011|publicado=portalsaofrancisco.com.br|acessodata=17 de janeiro de 2013|autor=Portal São Francisco}}</ref>

Em 1482, Leonardo, que de acordo com Vasari era um músico muito talentoso,<ref>{{Citar web|url=http://library.thinkquest.org/13681/data/link3.htm#|titulo=Leonardo da Vinci's Music|data=2009-01-22|acessodata=2019-01-11|obra=Think Quest|arquivourl=https://web.archive.org/web/20090122084107/http://library.thinkquest.org/13681/data/link3.htm#|arquivodata=22-01-2009|urlmorta=yes}}</ref> criou uma [[Lira (instrumento musical)|lira]] de [[prata]], com a forma da cabeça de um [[cavalo]]. [[Lourenço de Médici]], dito "''il Magnifico''", grande humanista, enviou Leonardo, a portar a lira como um presente, a Milão, para selar a paz com [[Ludovico Sforza]] (dito ''il Moro'', "o [[Mouros|Mouro]]"), [[Ducado de Milão|Duque de Milão]] não oficial.<ref>{{citar livro|último=Rossi|primeiro=Paolo|título=The Birth of Modern Science|ano=2001|publicado=Blackwell Publishing|isbn=0631227113|páginas=33}}</ref> Foi nesta época que Leonardo da Vinci escreveu uma carta a Ludovico, citada frequentemente, na qual ele descreve as coisas diversas e maravilhosas que conseguia realizar no campo da engenharia, e informando o seu senhor que ele também podia pintar,<ref>{{citar web|título=Carta de Leonardo a Ludovico Sforza|publicado=Leonardo-history|url=http://www.leonardo-history.com/life.htm?Section=S5|acessodata=28 de setembro de 2007|língua=en}}</ref> apesar de muitas de suas ideias estarem no campo da fantasia e só um sistema de rodete, idealizado em 1490, chegou a ser usado no campo de batalha.<ref>{{citar livro|ultimo=Isaacson|primeiro=Walter|data=2017|titulo=Leonardo da Vinci|local=Rio de Janeiro|editora=[[Intrínseca]]|pagina=122-123|isbn=978-85-510-0257-5}}</ref>

Leonardo continuou a trabalhar em Milão, entre 1482 e 1499. Recebeu a encomenda de pintar a ''[[Virgem dos Rochedos]]'' para a Confraria da Imaculada Conceição, e a ''[[A Última Ceia (Leonardo da Vinci)|Última Ceia]]'' para o mosteiro de Santa Maria delle Grazie. Enquanto vivia em Milão, entre 1493 e 1495, Leonardo listou uma mulher, chamada Caterina, entre seus dependentes, nas suas declarações de imposto de renda. Quando ela morreu, em 1495, a lista dos gastos com o funeral sugere que ela pode ter sido sua mãe.<ref>Codex II, 95 r, Victoria and Albert Museum, como citado por della Chiesa</ref>

Trabalhou em diversos projetos para Ludovico, incluindo o preparo de [[Carro alegórico|carros alegóricos]] e [[desfile]]s para ocasiões especiais, o projeto de uma [[cúpula]] para a [[Catedral de Milão]], e um modelo de uma imensa [[estátua equestre]] para {{lknb|Francesco|I||Sforza}}, o antecessor de Ludovico. Setenta toneladas de [[bronze]] foram separadas para a sua confecção; o monumento permaneceu inacabado durante anos, o que não foi comum na carreira de Leonardo. Em 1492 um modelo de argila foi terminado; ele era maior, em tamanho, que as duas únicas estátuas equestres do [[Renascimento]], a estátua de Gattemelata, em [[Pádua]], e a de [[Bartolomeo Colleoni]], de Verrocchio, em [[Veneza]], e ficou conhecido como o ''"Gran Cavallo"''.<ref>A estátua de Verrocchio de Bartolomeo Colleoni só foi terminada em 1488, já depois de sua morte, e após Leonardo já ter começado a trabalhar na estátua para Ludovico.</ref><ref name=leo/>

Leonardo começou a fazer os projetos detalhados para a sua fundição;<ref name=leo/> [[Michelangelo]], no entanto, sugeriu, de maneira indelicada, que Leonardo seria incapaz de fazê-lo. Em novembro de 1494 Ludovico usou o bronze para fabricar [[Canhão|canhões]], visando defender a cidade da invasão de [[Carlos VIII da França]].<ref name=leo/>

No início da Segunda Guerra Italiana, em 1499, as tropas invasoras francesas de {{lknb|Luís|XII|de França}} sucessor de {{lknb|Carlos|VIII|da França}}, utilizaram-se do modelo de argila do ''Gran Cavallo'' como alvo para praticar tiro. Com a deposição de Ludovico Sforza, Leonardo, juntamente com seu assistente, Salai, e seu amigo, o [[matemático]] [[Luca Pacioli]], abandonou Milão e fugiu para Veneza, passando por [[Mântua]], sendo que em Veneza foi empregado como arquiteto e engenheiro militar, planejando métodos de defender a cidade de um ataque naval.<ref name="leo"/>
[[Imagem:Study of horse.jpg|thumb|upright|''Estudo de um cavalo'', dos diários de Leonardo — Royal Library, [[Castelo de Windsor]]]]

Ao retornar a Florença, em 1500, foi recebido, juntamente com sua família e criadagem, pelos monges servitas do mosteiro de Santissima Annunziata, onde tinha à sua disposição um ateliê. Foi ali que, de acordo com Vasari, criou o desenho da ''[[A Virgem, o Menino, Sant'Ana e São João Batista|Virgem, o Menino, Sant'Ana e São João Batista]]'' — uma obra que conquistou tanta admiração que ''homens e mulheres, jovens e velhos'' vinham vê-la, em massa, ''como se estivessem frequentando um grande festival''.<ref name=Vasari/> {{#tag:ref|Em 2005, o ateliê foi redescoberto durante as obras de restauração de um edifício ocupado por 100 anos pelo Departamento de Geografia Militar.<ref>{{citar jornal|primeiro=Richard|último=Owen|título=Found: the studio where Leonardo met Mona Lisa|publicado=[[The Times]]|data=12 de janeiro de 2005|url=http://www.timesonline.co.uk/tol/news/world/article411195.ece|acessodata=22 de fevereiro de 2008}}</ref>|group="nb"}}

Em 1502, Leonardo passou a trabalhar para [[César Bórgia]], filho do papa [[Papa Alexandre VI|Alexandre VI]], atuando como arquiteto e engenheiro militar, e viajando por toda a Itália com seu patrão;<ref name="leo"/> foi nessa viagem que conheceu [[Nicolau Maquiavel]]. Retornou a Florença, onde voltou a fazer parte da Guilda de São Lucas, em 18 de outubro de 1503; recebeu a encomenda de um retrato: a ''[[Mona Lisa]]'', e passou os dois anos seguintes desenhando e pintando um grande [[mural]] da ''[[A Batalha de Anghiari|Batalha de Anghiari]]'' para a ''Signoria'',<ref name="leo"/> enquanto Michelangelo foi responsável pela peça que a acompanhava, ''A Batalha de Cascina''.{{#tag:ref|As duas obras perderam-se com o tempo; a pintura de Michelangelo é conhecida apenas através de uma cópia de Aristotole da Sangallo, 1542.<ref>{{citation|primeiro=Ludwig|último=Goldscheider|título=Michelangelo|ano=1953|publicado=Phaidon}}</ref> A pintura de Leonardo é conhecida hoje em dia apenas por seus rascunhos preparatórios e por diversas cópias feitas da seção central — das quais a mais conhecida, e provavelmente a menos fiel à original, é a de [[Peter Paul Rubens]].<ref name="leo"/> |group="nb"}} Ainda em Florença, em 1504, fez parte de um comitê formado para transferir, contra a vontade do próprio autor, Michelangelo, a célebre estátua do [[David (Michelangelo)|Davi]].<ref>Milanesi, Gaetano. ''Epistolario Buonarroti'', Florence (1875), citado por della Chiesa.</ref>

Em 1506, retornou a Milão. Muitos dos seus pupilos e seguidores mais importantes, no campo da pintura, ou o conheceram ou trabalharam com ele naquela cidade, incluindo [[Bernardino Luini]], [[Giovanni Antonio Boltraffio]] e [[Marco D'Oggione]].<ref group="nb">D'Oggione é conhecido em parte por suas cópias contemporâneas da ''Última Ceia''.</ref> Seu pai morreu em 1504, e como resultado, em 1507 Leonardo teve de voltar a Florença para resolver com seus irmãos os problemas decorrentes da herança e das propriedades paternas. No ano seguinte, retornou a Milão por solicitação do governador francês Charles d'Amboise, para resolver problemas de trabalhos inconclusos, onde passou a viver em sua própria casa, na região da ''Porta Orientale'', na paróquia de [[São Bábila]].<ref name="leo"/> Após [[mercenário]]s [[Suíça|suíços]] expulsarem os franceses em 1512, [[Massimiliano Sforza]] filho de Ludovico, ascendeu ao poder, e Leonardo ficou sem patrono. No ano seguinte foi convidado por Juliano de Médici, filho de ''il Magnifico'', para viajar para [[Roma]], que estava sob o controle do papa {{lknb|Leão|X}}, um Médici.<ref name="She"/>

=== Últimos anos, 1513–1519 ===
[[Imagem:Leonardo Da Vinci's house.jpg|thumb|esquerda|[[Clos Lucé]], na [[França]], onde Leonardo viveu seus últimos anos de vida, até morrer em 1519]]
De setembro de 1513 a 1516, Leonardo passou a maior parte do seu tempo vivendo no Belvedere, no [[Vaticano]], em [[Roma]], período durante o qual [[Rafael Sanzio|Rafael]] e Michelangelo também estavam em atividade.<ref name="leo"/> Em outubro de 1515, [[Francisco I da França]] reconquistou Milão;<ref name=Wasser>{{citation|primeiro=Jack|último=Wasserman|título=Leonardo da Vinci|ano=1975|publicado=Abrams|isbn=0-8109-0262-1}}</ref> Leonardo estava presente no encontro entre Francisco I e o papa [[Papa Leão X|Leão X]], em 19 de dezembro, ocorrido em [[Bolonha]].<ref>Goyau, Georges. ''François I]'', Trancrito por Gerald Rossi. ''[[Enciclopédia Católica|The Catholic Encyclopedia]]'', volume VI. 1909. Nova York: Robert Appleton Company. (consultado em 4 de outubro de 2007</ref><ref>{{citation|primeiro=Salvador|último=Miranda|url=http://www.fiu.edu/~mirandas/bios1527-ii.htm|título=The Cardinals of the Holy Roman Church: Antoine du Prat|ano=1998–2007|acessodata=4-10-2007}}</ref>

Foi de Francisco que Leonardo recebeu a encomenda de construir um [[leão]] mecânico, que pudesse caminhar para a frente, e abrir seu peito, revelando um ramalhete de [[lírio]]s.<ref name=Vasari/> {{#tag:ref|Não se sabe para que ocasiões o leão mecânico teria sido construído, porém acredita-se que ele tenha sido usado para saudar o rei em sua entrada em [[Lyon]], e talvez tenha sido usado também nas negociações de paz entre o rei francês e o [[papa]], em Bolonha. Uma recriação do leão, a partir de especulações, foi feita e está em exibição no Museu de Bolonha.<ref>{{citar web|título=Ancient automata- Leone|url=http://www.ancientandautomata.com/ita/lavori/leone.htm|língua=italiano|acessodata=22 de fevereiro de 2008|arquivourl=https://www.webcitation.org/61ABEKIPw?url=http://www.ancientandautomata.com/ita/lavori/leone.htm#|arquivodata=23 de agosto de 2011|urlmorta=yes}}</ref>|group="nb"}} Em 1516, passou a trabalhar diretamente a serviço de Francisco, e foi-lhe concedido o [[Solar (habitação)|solar]] de [[Clos Lucé]],<ref group = "nb">Clos Lucé, também conhecido como Cloux, é atualmente um museu público.</ref> próximo à residência do rei, no [[Castelo de Amboise]]. Foi aqui que ele passou os três últimos anos de sua vida, acompanhado por seu amigo e aprendiz, o [[conde]] [[Francesco Melzi]], e sustentado por uma [[pensão alimentícia|pensão]] que totalizava {{Formatnum|10000}} escudos.<ref name="leo"/>

Leonardo morreu em [[Clos Lucé]], em 2 de maio de 1519. Francisco havia se tornado um grande amigo; e Vasari relata que o rei segurava a cabeça de Leonardo em seus braços quando este morreu — embora a história, amada pelos [[franceses]] e retratada em pinturas [[Romantismo|românticas]] de artistas como [[Jean-Auguste Dominique Ingres|Ingres]] e [[Angelica Kauffmann]], possa ser mais lenda do que realidade.<ref group = "nb">No dia da morte de Leonardo, um [[Édito de Saint-Germain|edito]] real foi proclamado em [[Saint-Germain-en-Laye]], a dois dias de viagem de Clos Lucé; isto normalmente é tido como prova de que o rei Francisco estaria presente ao lado do leito de morte do artista. White, no entanto, indica em ''Leonardo: The First Scientist'' que o edito não foi assinado pelo próprio rei.</ref>

[[Imagem:IngresDeathOfDaVinci.jpg|thumb|direita|''A Morte de Leonardo da Vinci'', por Jean-Auguste Dominique Ingres (1818)]]
Vasari também conta que, em seus últimos dias, Leonardo teria pedido que um [[padre]] lhe fosse trazido, para que se [[Confissão (sacramento)|confessasse]] e recebesse a [[extrema unção]].<ref name=Vasari/> De acordo com o que pediu em seu [[testamento]], sessenta [[mendigo]]s seguiram o seu cortejo. Foi enterrado na Capela de Saint-Hubert, no [[Castelo de Amboise]].<ref>{{findagrave|3673}}</ref> Melzi foi o principal herdeiro e inventariante, e recebeu, além de todo o dinheiro de Leonardo, todos os seus cadernos, ferramentas, sua biblioteca e seus objetos pessoais. Leonardo também se lembrou de seu antigo pupilo e companheiro, Salai, e de seu criado, Battista di Vilussis; cada um recebeu uma metade das [[vinha]]s de Leonardo, sendo que de Salai tornaram-se posses as pinturas que acompanhavam o mestre desde então.<ref name="Kemp"/> Seus irmãos também receberam terras, e sua criada recebeu ''um manto negro de bom material, com as bordas de pele.''<ref>{{citar web|título=Testamento de Leonardo|publicado=Leonardo-history|url=http://www.leonardo-history.com/life.htm?Section=S6|acessodata=28 de setembro de 2007|língua=en}}</ref>

Cerca de vinte anos após a morte de Leonardo, o rei Francisco teria falado, segundo o [[escultor]] [[Benvenuto Cellini]]: "''Nunca nasceu no mundo outro homem que soubesse tanto quanto Leonardo, nem tanto'' [por seus conhecimentos] ''de pintura, escultura e arquitetura, mas por ele ter sido um grande filósofo".''<ref>{{citar web|autor=Mario Lucertini, Ana Millan Gasca, Fernando Nicolo|título=Technological Concepts and Mathematical Models in the Evolution of Modern Engineering Systems|publicado=Birkhauser|data=2004|ISBN=376436940X|url=http://books.google.com/books?id=YISIUycS4HgC&pg=PA13&lpg=PA13&dq=leonardo+cellini+francois+philosopher|acessodata=3-10-2007}}</ref>

== Relacionamentos e influências ==
=== Florença – contexto social e artístico de Leonardo ===
{{Artigo principal|Renascimento}}
{{multiple image
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	|align     =left
	|image1    =Workshop_of_Andrea_del_Verrocchio,_1470s_Metropolitan_Museum_N-Y.jpg
	|caption1  =Pequena ''Madona e o Menino'' de [[Verrocchio]],<small>c.&nbsp;1470</small>
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	|caption2  =Peça central de ''O Retábulo de Portinari'',<small>por [[Hugo van der Goes]], feito para uma família florentina</small>
	|image3    =Ghirlandaio a-pucci-lorenzo-de-medici-f-sassetti 1.jpg
	|caption3  =[[Lourenço de Médici]] entre Antonio Pucci e Francesco Sassetti,<small> [[afresco]] de [[Ghirlandaio]]</small>
}}
Leonardo começou seu [[aprendizado]] com Verrocchio em 1466, no ano em que morreu o mestre do próprio Verrocchio, o grande [[escultor]] [[Donatello]]. O [[Pintor (artista)|pintor]] [[Paolo Uccello|Uccello]], cujas experiências com a [[perspectiva (gráfica)|perspectiva]] influenciariam o desenvolvimento da pintura de paisagem, já era um homem de idade muito avançada, e os pintores [[Piero della Francesca]] e [[Fra Filippo Lippi]], o escultor [[Luca della Robbia]], e o [[arquiteto]] e [[escritor]] [[Leon Battista Alberti|Alberti]] já estavam em seus sessenta anos de idade. Entre os artistas mais bem sucedidos da geração seguinte estavam, além do próprio professor de Leonardo, Verrocchio, [[Antonio Pollaiuolo]] e o escultor [[Mino de Fiesole]], cujos bustos realistas são até hoje as evidências mais confiáveis da aparência real do pai de [[Lourenço de Médici]], Piero, e de seu tio, Giovanni.<ref name=Bruck/><ref name=Rach/><ref name=Hartt>{{Citar livro|autor=Frederich Hartt|título=A History of Italian Renaissance Art|editora=Thames and Hudson|ano=1970|isbn=0500231362}}</ref>

Leonardo passou sua juventude numa Florença decorada pelas obras destes artistas, e pelos contemporâneos de Donatello, como [[Masaccio]] — cujos [[afresco]]s figurativos estavam imbuídos de realismo e emoção, ou de [[Ghiberti]], cujas ''[[Batistério de Florença#Portas do batistério|Portas do Paraíso]]'', folheadas a ouro, mostravam a arte da combinação de composições figurativas complexas com fundos arquitetônicos ricamente detalhados. Piero della Francesca fez um estudo detalhado da perspectiva, e foi o primeiro pintor a fazer um estudo científico da [[luz]]. Estes estudos, juntamente com o ''Trattato'' de [[Leone Battista Alberti]], teriam um efeito profundo nos artistas mais jovens, e especialmente nas próprias observações e obras de Leonardo.<ref name=Bruck/><ref name=Rach/><ref name=Hartt/>

''A Expulsão do Jardim do Éden'', de Massaccio, mostrando [[Adão e Eva]] nus e transtornados, abandonando o [[Jardim do Éden]], criou uma imagem tremendamente expressiva da forma humana, representada em três dimensões através do uso de [[chiaroscuro|luz e sombra]] — algo que seria desenvolvido nas obras de Leonardo a ponto de influenciar a história da pintura a partir de então. As influências [[humanismo|humanistas]] do ''Davi'' de Donatello podem ser vistas nas pinturas da velhice de Leonardo, em especial o ''[[São João Batista (Leonardo da Vinci)|São João Batista]]''.<ref name=Hartt/>

Uma tradição recorrente em Florença era a de pequenos [[retábulo]]s retratando a [[Maria, mãe de Jesus|Virgem]] e o [[Jesus|Menino]]. Muitos eram feitos em [[têmpera (pintura)|têmpera]] ou [[terracota]] vitrificada, pelos ateliês de Filippo Lippi, Verrocchio e da prolífica família [[Luca della Robbia|della Robbia]].<ref name=Hartt/> Leonardo foi contemporâneo de [[Botticelli]], [[Ghirlandaio]] e [[Perugino]], embora fossem um pouco mais velhos que ele. Teria conhecido todos no atelier de Verrocchio, com quem eles tinham ligações, e na Academia dos Médici. Botticelli era especialmente preferido pela [[família Médici]], e seu sucesso como pintor era praticamente garantido. Ghirlandaio e Perugino eram prolíficos, e também geriam grandes ateliês; foram responsáveis por comissões realizadas com competência, para patronos satisfeitos, que apreciavam a habilidade de Ghirlandaio de retratar os cidadãos ricos de Florença em grandes afrescos religiosos, e a habilidade de Perugino em criar multidões de [[santo]]s e [[anjo]]s de inescapável doçura e inocência.<ref name=Hartt/>

Em 1476, durante o período em que Leonardo esteve ligado ao atelier de Verrocchio, o pintor [[Flandres|flamengo]] [[Hugo van der Goes]] chegou em Florença, trazendo o ''Retábulo de Portinari'' e as [[Gótico flamengo|novas técnicas de pintura]] do [[Norte da Europa]] que afetariam profundamente os pintores florentinos do período. Em 1479 o pintor [[Sicília|siciliano]] [[Antonello da Messina]], que trabalhava exclusivamente com [[pintura a óleo|óleos]], viajou para o norte, em direção a [[Veneza]], onde o principal pintor da cidade, [[Giovanni Bellini]], também adotara a técnica da pintura a óleo, transformando-a rapidamente na técnica preferida do local. Leonardo também visitaria Veneza algum tempo depois.<ref name=Rach/>

Como dois arquitetos contemporâneos, [[Bramante]] e [[Antonio da Sangallo|Antonio da Sangallo, o Velho]], Leonardo experimentou com projetos para [[igreja]]s planejadas centralmente, diversas das quais aparecem em seus diários, tanto em plantas quanto vistas — embora nenhum destes projetos tenha chegado a ser posto em prática.<ref name=Hartt/>

Os contemporâneos políticos de Leonardo foram [[Lourenço de Médici]] (''il Magnifico''), três anos mais velhos que ele, e seu popular irmão mais novo, Juliano, morto na [[Congiura dei Pazzi]] de 1478. [[Ludovico Sforza]] (''il Moro''), que governou [[Milão]] entre 1479 e 1499, período durante o qual Leonardo foi enviado como [[embaixador]] em nome da corte dos Médici, também tinha aproximadamente a mesma idade.<ref name=Bruck/><ref name=Hartt/>

Juntamente com Alberti, Leonardo passou a frequentar o lar dos Médici, e através deles conheceu [[filósofo]]s humanistas como [[Marsilio Ficino]], proponente do [[neoplatonismo]], [[Cristoforo Landino]], autor de comentários sobre os escritos da [[Antiguidade Clássica]], e [[João Argyropoulos]], professor de [[Língua grega|grego]] e tradutor das obras de [[Aristóteles]]. Outro contemporâneo de Leonardo que também teve seu nome associado à Academia dos Médici foi o jovem e brilhante poeta e filósofo [[Pico della Mirandola]].<ref name=Rach/><ref>{{Citar livro|autor=Hugh Ross Williamson|título=Lorenzo the Magnificent|editora=Michael Joseph|ano=1974|isbn=07181 12040}}</ref>

Embora costumem ser agrupados como os três gigantes do [[Renascimento|Alto Renascimento]], Leonardo, [[Michelangelo]] e [[Rafael Sanzio|Rafael]] não pertenceram à mesma geração. Leonardo tinha vinte e três anos quando Michelangelo nasceu, e trinta e um no nascimento de Rafael, este último teve uma vida curta, morrendo em 1520, no ano após a morte de Leonardo; já Michelangelo continuou criando por mais 45 anos.<ref name=Bruck>{{Citar livro|autor=Gene A. Brucker|título=Renaissance Florence|editora=Wiley and Sons|ano=1969|isbn=0-471-11370-0}}</ref><ref name=Rach>{{Citar livro|autor=Ilan Rachum|título=The Renaissance, an Illustrated Encyclopedia|editora=Octopus|ano=1979|isbn=0-7064-0857-8}}</ref>

=== Vida pessoal ===
{{Artigo principal|Vida pessoal de Leonardo da Vinci|Sexualidade de Leonardo da Vinci}}
[[Imagem:Tizian_056.jpg|thumb|upright|Retrato de [[Isabella d'Este]]]]

Ao longo da vida de Leonardo, seu extraordinário poder de inventividade, sua "espetacular beleza física", "graça infinita", "grande força e generosidade", "espírito régio e tremendo alcance mental", como foram descritos por Vasari,<ref name=Vasari/> atraíram a curiosidade daqueles que o cercavam. Diversos autores especularam sobre os vários aspectos da personalidade de Leonardo; um deles, a sua adoção de éticas e práticas pessoais, que podem ser ocasionadas de sua crescente admiração pela natureza e suas criaturas, como pode ser exemplificado por seu [[vegetarianismo]] e o hábito, descrito também por Vasari, de comprar [[pássaro]]s engaiolados e libertá-los.<ref name=Vasari/><ref>Eugene Muntz, ''Leonardo da Vinci Artist, Thinker, and Man of Science'' (1898), citado em [http://www.ivu.org/history/davinci/hurwitz.html Leonardo da Vinci's Ethical Vegetarianism]</ref><ref group="nb">O historiador Edward McCurdy, citado no livro Jaulas Vazias, do filósofo e professor emérito Tom Regan, menciona: "a mera ideia de permitir o sofrimento desnecessário e, mais ainda, de matar, era abominável para ele". Segundo os relatos verificados por Regan, o inventor adotou uma dieta vegetariana na infância, por razão de evidentes éticas pessoais. Leonardo teria atacado a prática do consumo de carne com as seguintes palavras: "Rei dos animais — é como o humano descreve a si mesmo — eu te chamaria Rei das Bestas, sendo tu a maior de todas — porque as ajudas só para que elas te deem seus filhos, para o bem da tua goela, a qual transformaste num túmulo para todos os animais."</ref>

Leonardo teve muitos amigos que se tornaram profissionais renomados em seus campos, ou que são célebres até hoje por sua importância histórica. Entre eles está o [[matemático]] [[Luca Pacioli]], com quem ele colaborou num livro na década de 1490, assim como [[Franchinus Gaffurius]] e [[Isabella d'Este]], ''a grande dama do Renascimento''.<ref name="leo"/> Além de suas amizades, Leonardo mantinha sua vida privada em segredo. Sua [[sexualidade]] foi alvo frequente de estudos, análises e especulações. Esta tendência já se tinha iniciado no meio do {{séc|XV}}, e tomou novo ímpeto nos séculos XIX e XX, especialmente a partir de [[Sigmund Freud]].<ref>Sigmund Freud, ''Eine Kindheitserinnerung des Leonardo da Vinci'', (1910), citado por Daniel Arasse em seu prólogo para ''Leonardo da Vinci''.</ref>

=== Assistentes e pupilos ===
{{Artigo principal|Leonardeschi}}
[[Imagem:Leonardo da Vinci - Saint John the Baptist C2RMF retouched.jpg|thumb|upright|Salai, criado de Leonardo da Vinci, como ''[[São João Batista (Leonardo da Vinci)|São João Batista]]''<small> (c.&nbsp;1514) — [[Louvre]]</small>]]
Os relacionamentos mais íntimos de Leonardo foram com seus dois pupilos, Gian Giacomo Caprotti da Oreno, apelidado ''Salai'' ou ''il Salaino'' ("pequeno diabo" na [[gíria]] da época), que entrou para o seu convívio familiar em 1490. Depois de apenas um ano, Leonardo fez uma lista de suas contravenções, chamando-o de "um ladrão, um mentiroso, teimoso, e glutão", depois de ele ter roubado dinheiro e objetos de valor em pelo menos cinco ocasiões, e gastar uma fortuna em roupas.<ref>Leonardo, Codex C. 15v, Institut of France. Trans. Richter</ref> Ainda assim, em seus primeiros anos, os cadernos de Leonardo contêm diversas pinturas do estudante, que permaneceu como parte da família de Leonardo pelos trinta anos seguintes.<ref name="leo"/> Salai também fez uma série de pinturas, sob o nome de Andrea Salai; embora Vasari tenha alegado que Leonardo "ensinou-lhe muito sobre pintura",<ref name=Vasari/> sua obra é geralmente considerada como tendo um mérito artístico menor do que outros pupilos de Leonardo, como [[Marco d'Oggione]] e [[Giovanni Antonio Boltraffio|Boltraffio]]. Em 1515 Salai pintou uma versão [[Nudez|nua]] da ''[[Mona Lisa]]'', conhecida como ''Mona Vanna''.<ref>{{citar web|último=GROSS|primeiro=Tom|título=Mona Lisa Goes Topless|publicado=Paintingsdirect.com|url=http://web.archive.org/web/20070403073656/www.paintingsdirect.com/content/artnews/032001/artnews1.html|acessodata=27 de setembro de 2007}}</ref> O próprio Salai era proprietário da ''Mona Lisa'' na ocasião de sua morte, em 1525, e em seu testamento ela foi estimada em 505 [[lira italiana|liras]], um valor excepcionalmente alto para um pequeno retrato.<ref name=NR>{{citar web|último=ROSSITER|primeiro=Nick|título=Could this be the secret of her smile?|publicado=Telegraph.co.UK|data=4 de julho de 2003|url=http://www.telegraph.co.uk/arts/main.jhtml?xml=/arts/2003/04/07/banr.xml|acessodata=3-10-2007}}</ref>

Em 1506 Leonardo acolheu outro pupilo, o [[conde]] [[Francesco Melzi]], filho de um [[aristocrata]] da [[Lombardia]]. Melzi, estudante predileto de Leonardo, viajou com o tutor para a [[França]], onde esteve ao seu lado durante todo o fim de sua vida. Com a morte de Leonardo, Melzi herdou as coleções, manuscritos e obras artísticas e científicas de Leonardo, patrimônio que ele administrou fielmente a partir de então.<ref>Nuova antologia editado por Francesco Protonotari, 1873; p.960</ref>

== Obra artística ==
{{Anexo|Lista de pinturas de Leonardo da Vinci}}
{{Artigo principal|vt=s|Trattato della Pittura}}

=== Introdução ===
[[Imagem:Leonardo da Vinci - Saint Jerome.jpg|esquerda|upright|thumb|''[[São Jerónimo no deserto (Leonardo da Vinci)|São Jerônimo no Deserto]]'', pintura inacabada, c.&nbsp;1480, [[Palácio Apostólico]] do [[Vaticano]]]]

Apesar do recente interesse e admiração por Leonardo como [[ciência|cientista]] e inventor, durante mais de quatrocentos anos a sua enorme fama apoiou-se nos seus feitos como [[Pintor (artista)|pintor]] e num punhado de obras, autenticadas ou atribuídas a ele, que têm sido vistas desde então como algumas das obras-primas supremas já criadas pelo homem.<ref>Na década de 1490 Leonardo já havia sido descrito como um pintor "divino". Sua fama é discutida por Daniel Arasse em ''Leonardo da Vinci'', pp.11-15</ref>

Estas pinturas ficaram famosas por uma série de qualidades que foram muito imitadas por estudantes e discutidas extensivamente por conhecedores e críticos. Entre algumas destas qualidades que tornam a obra de Leonardo única estão as técnicas inovadoras que ele usou na aplicação da [[tinta]], seu conhecimento detalhado de [[anatomia]], [[luz]], [[botânica]] e [[geologia]], seu interesse na [[fisiognomonia]] e na maneira pelo qual os humanos registram emoções em suas expressões e gestos, seu uso inovador da forma humana em composições figurativas, e o uso da graduação sutil da tonalidade. Todas estas qualidades encontram-se reunidas em suas obras mais famosas, como a ''[[Mona Lisa]]'', ''[[A Última Ceia (Leonardo da Vinci)|A Última Ceia]]'' e a ''[[Virgem dos Rochedos]]''.<ref>Estas qualidades das obras de Leonardo são discutidas por Frederick Hartt em ''A History of Italian Renaissance Art'', pp.387-411.</ref>

Leonardo não foi um pintor prolífico, mas foi o mais prolífico [[desenho|desenhista]] (projetista), mantendo diários cheios de pequenos rascunhos e desenhos detalhados registrando todas as coisas que lhe chamavam atenção. Juntamente com os diários, existem diversos estudos de pinturas, alguns dos quais podem ser identificados como preparações para trabalhos específicos como ''[[A Adoração dos Magos (Leonardo da Vinci)|A Adoração dos Magos]]'', a ''Virgem dos Rochedos'' e ''A Última Ceia''. Seu desenho mais antigo é o ''Vale do Arno'' (1473), que ostenta as montanhas tão frequentes em suas obras.<ref name="leo"/>

Entre seus desenhos mais famosos está o ''[[Homem Vitruviano]]'', um estudo das proporções do corpo humano, e a ''Cabeça de Anjo'', esboço de [[Uriel]] em ''[[A Virgem dos Rochedos]]'', no Louvre, e um grande desenho em giz, ''[[A Virgem, o Menino, Sant'Ana e São João Batista]]'', na [[National Gallery (Londres)|National Gallery]] em [[Londres]].<ref name="leo"/> Este desenho emprega o efeito sutil do [[sfumato]], técnica de sombreado presente em ''[[Mona Lisa]]''. Pensa-se que Leonardo nunca fez uma pintura a partir dele, mas há uma notável semelhança com a pintura ''[[A Virgem e o Menino com Santa Ana]]'', atualmente no Louvre.<ref name="leo"/>

Outros desenhos de interesse incluem numerosos estudos geralmente referidos como "caricaturas", porque, embora exagerados, parecem ser baseados em observação de modelos vivos, como ''[[Cabeças Grotescas]]''. Vasari refere que, se Leonardo encontrasse pessoas com personalidade interessante, ele iria acompanhá-las o dia todo observando.<ref name=Vasari/> Existem numerosos estudos de belos jovens, muitas vezes associados a Salai, com sua rara e muito admirada beleza facial, o então chamado "perfil grego". Outros estudos muito detalhados são os de roupagens, um bom exemplo é o macabro ''Retrato de Bernardo di Bandino Baroncelli executado'', em que com desapaixonada integridade Leonardo descreve as vestes do participante da [[Congiura dei Pazzi]].<ref name="leo"/>

=== Primeiras obras ===
==== Em Florença, 1469–1482 ====
[[Imagem:Leonardo da Vinci - Hanging of Bernardo Baroncelli 1479.jpg|thumb|upright|''Retrato de Bernardo di Baroncelli executado''<br><small>Imagem horizontalmente invertida para visualização legível da escrita ''leonardiana.''</small>]]
Leonardo da Vinci nasceu no seio de uma família cujas posses equivaliam à riqueza das famílias que hoje chamamos [[classe-média]], instruída e altruísta. Jovem, Leonardo revelou desde cedo uma aptidão genial para o [[desenho]], área em que, tecnicamente, mais se destacou, pelo menos na sua carreira prematura.<ref>{{citar web|url=http://www.collegetermpapers.com/TermPapers/M/leonardo_da_vinci.html|título=Leonardo da Vinci|data=2011|acessodata=17 de janeiro de 2013|publicado=collegetermpapers.com|lingua=en}}</ref><ref>Stanley, Diane. Leonardo Da Vinci. New York: Marrow Junior Books, 1988. Wasserman, Jack. Leonardo Da Vinci. New York: Harry N. Abrams Inc, 1984</ref>

Segundo, [[Giorgio Vasari]], sua [[família]], amiga íntima da família de Verrocchio, tinha um estreito contato com a arte [[Florença|florentina]]. ''Messer'' Piero, pai de Da Vinci, levou um dia alguns dos trabalhos de Leonardo ao ateliê do pintor, questionando-o sobre o eventual talento de Leonardo e se valeria a pena investir no jovem. Verrocchio ficou espantado com a habilidade de Leonardo e, prontamente, aceitou o jovem no seu estúdio.<ref>{{citar web|url=http://www.virtualuffizi.com/biography/Andrea-di-Cione-called-Verrocchio.htm|autor=Virtual Uffizi|publicado=virtualuffizi.com|título=Andrea di Cione called Verrocchio - Biography|língua=en|data=2012|acessodata=17 de janeiro de 2013}}</ref>

Os trabalhos prematuros de Leonardo resumiam-se, de fato, a desenhos, [[esboço]]s a [[carvão]], [[tinta nanquim]] ou aguada. Embora somente se conheça um retrato masculino a óleo na sua obra, o pintor explorou com ênfase o retrato da virilidade masculina, um interesse que se revela mesmo neste tempo de aprendiz. Um dos seus trabalhos mais intrigantes deste início de carreira é ''Retrato de Bernardo di Baroncelli executado'', já no estúdio de Verrocchio, a pena e tinta, realizado a caneta de aparo sobre papel preparado, que conclui o maior registro desenhado, realizado em 29 de dezembro de 1479. Trata-se do retrato de um cadáver, um participante da [[Congiura dei Pazzi]], executado pelo assassinato de [[Juliano de Médici]].<ref>Bramly, Serge. ''Leonardo: the artist and the man'', tradução: Reynolds,Sian. Ed.Penguin Books, 1994 ISBN 0-14-023175-7, ISBN 978-0-14-023175-5</ref> Na inscrição no topo do papel, Leonardo descreve o vestuário do executado, incluindo as cores com sua típica escrita invertida.{{#tag:ref|Descrição do vestuário de Bernardo di Baroncelli por Leonardo da Vinci:
''Uma pequena touca cor de bronze.''
''Uma parelha de sarja preta.''
''Um justilho preto, forrado, e o colarinho coberto com veludo pontilhado preto e vermelho.''
''Um casaco azul forrado com peles de raposas.''
''Mangas pretas.''
''Bernardo di Baroncelli."''<ref>Leonardo da Vinci, Irma A. Richter, Thereza Wells e Martin Kemp. ''Leonardo da vinci - Notebooks'', Publicado por Oxford University Press, 2008, p.272 ISBN 0-19-929902-1, ISBN 978-0-19-929902-7</ref>|group="nb"}}<ref>Zöllner, Frank. ''Leonardo da Vinci'', ed. Taschen, 2000 ISBN 3-8228-5979-6 ISBN 978-3-8228-5979-7</ref> Na margem inferior direita do trabalho aparece ainda uma cabeça. Referência notável para o seu trabalho é a facilidade e o domínio do traço, que revelaria mais tarde no pincel. Duas outras pinturas parecem datar deste seu período no ateliê de Verrocchio, ambas [[Anunciação|Anunciações]]. Uma é pequena, com 59 centímetros por 14; é uma ''[[predella]]'', destinada a adornar a base de uma composição maior — neste caso, uma pintura de [[Lorenzo di Credi]] da qual ela foi separada. A outra é uma obra muito maior, com dois metros e 17 centímetros.<ref name="leo"/> Em ambas as Anunciações Leonardo utilizou-se de um arranjo formal (como nas célebres pinturas de [[Fra Angelico]] sobre o mesmo assunto), da [[Virgem Maria]] sentada ou ajoelhada à direita do quadro, com um anjo de perfil se aproximando pela esquerda, com as asas eretas e portando um lírio em um cenário aberto, com um rico jogo de perspectiva linear.{{#tag:ref|A descoberta da perspectiva linear no {{séc|XV}}, facilitou aos artistas a representação de distâncias em superfícies planas; os ângulos como paredes seguem a linhas com um único ponto de convergência chamado de ''ponto de fuga'',<ref>Mason, Antony e Klimes, Helena Gomes. ''Leonardo da Vinci'', Callis Editora Ltd, 2000 ISBN 85-7416-111-X ISBN 978-85-7416-111-2</ref> obtendo-se assim, um sutil efeito tridimensional. Para pintores como [[Albrecht Dürer]], exemplifica Nicolau Sevcenko, ''a expressão perspectiva significa "ver através"'', e complementa: ''essa impressão inédita de olhar-se para uma parede pintada e parecer que se vê para além dela, como se ali tivesse sido aberta uma janela para um outro espaço, o espaço pictórico, era o principal efeito buscado pelos novos artistas. A pintura tradicional, gótica ou bizantina, praticamente se restringia ao plano bidimensional das paredes, produzindo no máximo um efeito decorativo. O novo estilo artístico multiplicava o espaço dos interiores e, com a preocupação de dar às pessoas, objetos e paisagens retratados a aparência mais natural possível, parecia multiplicar a própria vida.''<ref>Nicolau Sevcenko. ''op. cit.'' p. 32</ref>|group="nb"}} Embora tenha sido atribuído anteriormente a [[Ghirlandaio]], a maior das duas obras é considerada de maneira unânime nos dias de hoje como sendo de Leonardo.<ref name=Berti>{{citation|primeiro=Luciano|último=Berti|título=The Uffizi|ano=1971|publicado=Scala}}</ref>

Na menor das pinturas, Maria desvia seus olhos, e dobra suas mãos, num gesto que simbolizava a submissão à vontade de Deus; na outra, no entanto, Maria não está nem um pouco submissa. A bela jovem, interrompida em sua leitura por este inesperado mensageiro, coloca um dedo na sua [[Bíblia]] para marcar o lugar onde parou e levanta sua outra mão num gesto formal de saudação ou surpresa.<ref name=Hartt/> Esta jovem tranquila parece aceitar seu papel como a [[Mãe de Deus]], não com resignação, mas com confiança. Nesta pintura, o jovem Leonardo apresenta a face [[Humanismo|humanista]] da Virgem Maria, reconhecendo o papel da humanidade na encarnação de Deus.<ref>Michael Baxandall lista cinco reações ou "condições louváveis" de Maria à presença e ao anúncio do anjo. Elas são: Inquietação, Reflexão, Investigação, Submissão e Mérito. Nesta pintura a atitude de Maria não condiz com nenhuma das tradições aceitas ({{citation|primeiro=Michael|último=Baxandall|título=Painting and Experience in Fifteenth Century Italy|ano=1974|publicado=Oxford University Press|isbn=0 19 881329 5}}).</ref>

<gallery mode="packed" heights="180px">
ANGELICO, Fra Annunciation, 1437-46 (2236990916).jpg|''A Anunciação'' de [[Fra Angelico]], 1437–1446
Leonardo da Vinci - Annunciazione - Google Art Project.jpg|''[[A Anunciação (Leonardo da Vinci)|A Anunciação]]'' de Leonardo da Vinci, 1472–1475
</gallery>

[[Imagem:Andrea del Verrocchio - Baptême du Christ 1.jpg|thumb|esquerda|upright|Detalhe do anjo atribuído a Leonardo em ''[[O Batismo de Cristo]]''; caracterizado pela beleza, apresenta grande perfeição de perfil,<ref name="leo"/> que expressaria com total maestria no Anjo Uriel em sua futura ''[[Virgem dos Rochedos]]''.]]

Uma série de estudos meticulosos o levou a concretizar trabalhos como ''[[A Anunciação (Leonardo da Vinci)|A Anunciação]]'' ou a futura ''[[A Virgem do Cravo|Virgem do Cravo]]''. O estudo de roupagens das [[personagem|personagens]] das obras são um dos marcos do seu percurso artístico, concebidos com uma primazia notável.<ref>{{citar web|url=http://www.lyspedia.com/index.php?option=com_content&view=article&id=211:arte-renascentista&catid=38:arte-moderna|título=Arte Renascentista|data=2013|acessodata=17 de janeiro de 2013|publicado=lyspedia.com|autor=Graça Proença|arquivourl=https://web.archive.org/web/20140426215619/http://www.lyspedia.com/index.php?option=com_content&view=article&id=211:arte-renascentista&catid=38:arte-moderna#|arquivodata=26 de abril de 2014|urlmorta=yes}}</ref><ref>{{citar web|url=http://drieverywhere.net/2012/02/07/leonardo-da-vinci-national-gallery/|título=Leonardo da Vinci National Gallery|data=fevereiro de 2012|acessodata=17 de janeiro de 2013|publicado=drieverywere.net}}</ref> Baseando-se em [[escultura]]s ou modelos de [[madeira]] ou [[terracota]], cobertos por panejamentos e [[joia]]s — algo em voga, para não ter que pagar cortesãs para posarem para si — Leonardo desenvolveu as suas competências no [[desenho]] e sabendo-o bem, no seu ''[[Trattato della Pittura]]'', aconselha os artistas a praticarem o desenho através do estudo de relevos e esculturas.<ref group="nb">Os ensaios escultóricos da década de 1470 eram principalmente executados em terracota, Leonardo os utilizava como modelo para suas obras pictóricas, isso explica o volume presente em algumas pinturas desse período, como a ''Virgem do Cravo''.</ref> Estes estudos, primeiramente postos em prática pelo artista, prepararam um [[Gênio (pessoa)|génio]] sagaz e um mestre inconfundível. O [[Humanismo|humanista]] [[Paolo Giovio]] e Vasari referem-se constantemente, em suas obras, à perfeição do jovem artista em seus desenhos. Vasari até afirma que 'os desenhos de Da Vinci são tão perfeitos e revelam uma busca tão incansável por novos detalhes, com um esforço de imaginação soberbo, que dificilmente podem ser igualados.<ref name="leo"/>

Nesta época, Leonardo desenvolveu um ''vitium'' (na acepção [[língua portuguesa|portuguesa]], uma «obsessão») pela perfeição das obras e desenvolveu imensamente a sua técnica, que o levou a criar outras inéditas, como o ''[[sfumato]]'', hoje conhecido através da ''[[Mona Lisa]]''. Tal exigência para consigo próprio levaria à não conclusão de diversos [[trabalho (economia)|trabalho]]s, pois assim que os iniciava punha-os de lado, tal era a rapidez e eficácia com que aprendia novas técnicas.<ref name="leo"/>

Ao mesmo tempo em que realizava os seus famosos estudos de roupagens, Leonardo concretizou vários [[desenho]]s e [[estudo]]s a partir da [[natureza]]. Estes são tipificados pelo trabalho que produziu ainda enquanto aprendiz, assim como uma das primeiras obras datadas constantes entre a coleção da [[Galeria dos Uffizi]], atualmente. No canto superior de o ''Vale do Arno'' aponta, na sua acostumada escrita invertida, «no dia de Santa Maria do Milagre da Neve,<ref group="nb">Nossa Senhora das Neves.</ref> 5 de agosto de 1473».<ref name="Richard"/>

Estudo a pena e tinta sobre um suporte preparatório quase invisível, mostra a vista sobre um vale com montes e escarpas de ambos os lados, abrindo no fundo uma escassa visibilidade do [[mar]]. A vista poderá ser do caminho entre Vinci e [[Pistoia]] e, provavelmente, terá sido esboçado a lápis ao ar livre ''in loco'', e depois completada a pena e tinta no ateliê. No início do {{séc|XX}}, [[Woldemar von Seidlitz]] compreendeu as fortificações de Papiano nas muralhas e torres numa colina à esquerda da composição. A importância deste desenho não se reflete só no fato de ter sido feito por Leonardo, mas sim, em figurar como um dos primeiros desenhos autónomos de [[paisagem|paisagens]] de toda a [[História da Arte]].<ref>{{citar web|url=http://prezi.com/trgpulranyi9/leonardo-da-vinci/|título=Leonardo da Vinci|data=maio de 2011|acessodata=17 de janeiro de 2013|língua=en|publicado=prezi.com|autor=Prezi}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www3.universia.com.br/materia/especiais/davinci/index.html|título=Passeio Virtual-Leonardo da Vinci|publicado=www3.universia.com.br|autor=universia|acessodata=17 de janeiro de 2013|arquivourl=https://web.archive.org/web/20130801074203/http://www3.universia.com.br/materia/especiais/davinci/index.html#|arquivodata=1 de agosto de 2013|urlmorta=yes}}</ref>

Estes estudos da natureza e de modelos vivos eram postos em prática nas suas obras pintadas, como no ''[[O Batismo de Cristo|Batismo de Cristo]]'', onde, conclusivamente, pintou o [[anjo]] que segura às vestimentas de [[Cristo]], que é de longe, muito melhor e elegante que as figuras pintadas por [[Verrocchio]] e [[Botticelli]], e a paisagem de sutis transições de tons cromáticos, com incríveis efeitos da luz, desfocando contornos de [[montanhas]] e [[Morro|colinas]] distantes, fundindo-as a uma neblina luminosa — efeito obtido pelo emprego prematuro do óleo em sua obra artística —, uma evocação ao desenho do ''Vale do Arno'' e antecipação do fundo de ''[[Mona Lisa]]''.<ref name="leo"/>

==== Vida profissional, 1476–1513 ====
{| cellpadding="0" cellspacing="0" style="float:right; border:1px solid #ccc; background:#fff;"
|-
|
{| cellspacing=3 cellpadding=3 style="background:#fff;"
|-
|  style="width:160px; text-align:center;"|[[Imagem:Leonardo da Vinci - Ginevra de' Benci - Google Art Project.jpg|158px]]
|  style="width:160px; text-align:center;"|[[Imagem:Rückfläche Ginevra de' Benci.JPG|160px]]
|} Frente e reverso de ''[[Ginevra de' Benci]].''
|}

Dando início à carreira profissional de artista, o retrato de uma jovem foi encomendado diretamente a Leonardo. Marcante, o retrato possui uma forte presença [[iconografia|iconográfica]] e uma austera amargura. Prematuramente noiva de Luigi di Bernardo di Lapo Niccolini, a juventude de Ginevra, filha de Amerigo Benci, um banqueiro,<ref name=ngal1>{{Citar web|url=https://www.nga.gov/kids/ginevra.htm|título=Leonardo da Vinci, Ginevra de' Benci|publicado=National Gallery of Art, Washington. www.nga.gov|língua=en|acessodata=25 de janeiro de 2016|arquivourl=https://web.archive.org/web/20160119035345/http://www.nga.gov/kids/ginevra.htm#|arquivodata=19 de janeiro de 2016|urlmorta=yes}}</ref> e possivelmente desejada do embaixador de [[Veneza]], Bernardo Bembo alcançou a eternidade com esta pintura, encomendada provavelmente pelo último, embora seja sugerido que a encomenda tenha sido feita pela família da jovem em comemoração de seu casamento.<ref name="leo"/>

A pintura, inicialmente maior, sofreu danos, e proprietários posteriores provavelmente a compactaram<ref name="beckett">Beckett, Wendy. ''A História da Pintura''. São Paulo, Editora Ática. 1997. pp. 118-119.</ref><ref name=ngal1/> com um corte de cerca de nove centímetros em sua parte inferior. Tal suposição é sustentada pela pintura do reverso, e por um [[desenho]] preparatório de mãos, que seria da mesma jovem. O desenho encontra-se na Royal Library, [[Castelo de Windsor]].<ref name="leo"/>

Tem-se conta de que o nome da jovem e o da pintura formam um jogo [[ícone|iconográfico]] de palavras.<ref name="beckett"/> Atrás da bela jovem, surge uma [[juniperus]]. A palavra [[Língua italiana|italiana]] que define esta árvore é ''ginepro'', significando ''genebra'' ou ''[[zimbro]]''.<ref name="beckett"/> Contudo, o significado renascentista da árvore era a pureza e a castidade.<ref name=ngal1/> Esta ideia é reforçada pela frase inscrita no reverso da pintura, na qual está pintado um pergaminho com louros e uma palma, ambos em torno de um pequeno ramo de [[zimbro]]. No pergaminho há os seguintes dizeres: ''A beleza adorna a virtude''<ref name="beckett"/> (<small>VIRTUTEM FORMA DECORAT</small>).<ref name="leo"/>
{| class="toccolours" style="float: right; margin-left: 1em; margin-right: 2em; font-size: 85%; background:#F4F4F4; color:black; width:30em; max-width: 40%;" cellspacing="5"
| style="text-align: left;" |'''A criptografia'''
{{quote|
'''''uomo senza lettere'''''
|Leonardo da Vinci<ref group="nb">"''Homem sem estudos''", é uma autodeclaração de Leonardo, utilizada possivelmente para designar suas próprias limitações ou interesses; sendo comparável ao "''Só sei que nada sei''" de [[Sócrates]].</ref>}}
Alguns historiadores e especialistas concluem que Leonardo gostava muito de distorcer coisas como em um quebra-cabeça. Muitos acham que sua escrita invertida era um código que protegia seus esboços contra espiões. Segundo Bruce Peterson, da ''RYP Australia Major Projects'', Leonardo da Vinci escrevia assim porque era [[canhoto]]<ref name="Canhoto">{{Citar web|url=http://www.italiaoggi.com.br/not01_0307/ital_not20070228c.htm|título=Italia Oggi|acessodata=30 de janeiro de 2008}}</ref> e não queria borrar os textos que criava febrilmente. Já historiadores acreditam que esta escrita era um sinal de que Leonardo da Vinci tinha [[dislexia]], pois escrevia de forma embaralhada e às vezes gostava de formar [[anagrama]]s.
|}

A expressão facial da jovem é o mais intrigante na pintura. Olhando o espectador sem encarar, a incerteza dos seus sentimentos intriga os especialistas; não se sabe se está cansada, triste, serena, zangada, ou seja, um rol de sentimentos inacabáveis que a expressão facial lhe atribui. Uma jovem que oculta o íntimo, modesta, ausente de joias,<ref name=ngal1/> tem como maior adorno a própria beleza natural como a paisagem que a cerca, o que poderia justificar a inscrição do reverso.<ref name=ngal1/>

=== Obras da década de 1480 ===
Na década de 1480, Alta Renascença,{{#tag:ref|A [[Renascimento|Alta Renascença]] cronologicamente engloba os anos finais do ''Quattrocento'' e as primeiras décadas do ''Cinquecento'', sendo delimitada aproximadamente pelas obras de maturidade de Leonardo da Vinci (a partir de c. 1480) e o [[Saque de Roma (1527)|Saque de Roma]] em 1527. É a fase de culminação do Renascimento, que se dissipa, mal é atingida, mas seu reconhecimento é importante porque aqui se cristalizam ideais que caracterizam todo o movimento renascentista: o humanismo, a noção de autonomia da arte, a emancipação do artista de sua condição de artesão e equiparação ao cientista e ao erudito, a busca pela fidelidade à natureza, e o conceito de gênio, tão perfeitamente encarnado em Da Vinci, [[Rafael Sanzio|Rafael]] e [[Michelangelo]], e se a passagem da Idade Média para a Idade Moderna não estava ainda completa, pelo menos estava assegurada sem retorno possível. Eventos como a [[descoberta da América]] e a [[Reforma Protestante]], e técnicas como a [[imprensa]] de tipos móveis, transformam a cultura e a visão de mundo dos europeus, ao mesmo tempo em que a atenção de toda a Europa se volta para a Itália e seus progressos e as grandes potências da [[França]], [[Espanha]] e [[Alemanha]] desejam sua partilha, fazendo dela um campo de batalhas e pilhagens, e com isso espalhando sua arte e influência por uma vasta região do continente.<ref>{{Citar web|url=http://www.1911encyclopedia.org/The_Renaissance|título=''Renaissance''. Encyclopædia Britannica, 11th edition|acessodata=17 de maio de 2009|arquivourl=https://web.archive.org/web/20090123110536/http://1911encyclopedia.org/The_Renaissance#|arquivodata=23 de janeiro de 2009|urlmorta=yes}}</ref><ref>Hauser, Arnold. Op. cit. pp 416-453</ref><ref>{{Citar web|url=http://www.all-art.org/history230.html|título=''The High Renaissance & Mannerism''. A World History of Art}}</ref>|group="nb"}} recebeu três importantes encomendas e começou outro trabalho ainda, cujo tema abriu uma rotura em termos de [[composição artística|composição]]. Dois desses três trabalhos nunca foram acabados (devido a sua partida para [[Milão]]) e o terceiro levou tanto tempo, que tornou-se alvo de longas negociações ao longo da sua execução e pagamento. Uma destas pinturas é ''[[São Jerônimo no Deserto]]''. Esta pintura é associada com um período difícil da vida de Leonardo, e coincide com sinais de melancolia encontrados em seu diário: "Achei que estava aprendendo a viver; estava apenas aprendendo a morrer". A composição da pintura foge às práticas costumeiras da época;<ref>O quadro, que durante o {{séc|XVIII}} pertenceu a [[Angelica Kauffmann]], acabou sendo retalhado. Dois dos pedaços principais foram encontrados em lojas do comércio local, e acabaram sendo reunidas novamente - Wasserman, Jack (1975), ''Leonardo da Vinci'', Abrams, ISBN 0-8109-0262-1; é provável que partes do quadro ainda estejam desaparecidas.</ref> [[Jerônimo de Estridão|São Jerônimo]], como um penitente, ocupa o centro da figura, levemente inclinado diagonalmente, e visto quase que de cima. A sua forma, ao ajoelhar-se, adquire um contorno trapezoide, com um braço esticado à borda exterior da pintura, e seu olhar virado para a direção oposta; alguns estudiosos apontam na obra ligações com os estudos anatômicos de Leonardo.<ref group="nb">Nesse período as pinturas de Da Vinci revelam um conhecimento e uma desenvoltura excepcionais na sua vertente [[anatomia|anatómica]], resultado dos seus imensos e incansáveis estudos no âmbito assunto e, por isso torna-se mestre nessa ciência.</ref><ref name=Wasser/>

Outra composição um tanto quanto atrevida, os elementos paisagísticos e o drama pessoal ressoam na obra de arte inacabada: ''[[A Adoração dos Magos (Leonardo da Vinci)|A Adoração dos Magos]]'', encomenda dos monges de ''San Donato a Scopeto''. É uma composição muito complexa sobre cerca de 250&nbsp;cm de largura e comprimento de uma placa de madeira. Para este trabalho o artista esboçou vários desenhos e numerosos trabalhos e estudos preparatórios, incluindo um detalhe de uma [[perspectiva (gráfica)|perspectiva]] linear das ruínas de um edifício clássico. Mas em 1482 Leonardo saiu com destino a Milão por ordens de [[Lourenço de Médici]], em tributo a [[Ludovico Sforza]], o [[mouro]], e a pintura e todo o trabalho que havia tido foi abandonada.<ref name="leo"/><ref name=Berti/>

==== Em Milão, 1482–1499 ====
{| cellpadding="0" cellspacing="0" style="float:right; border:1px solid #ccc; background:#F8F9FA; font-size:small"
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{| cellspacing=3 cellpadding=3
|  style="text-align:center" | [[Imagem:Virgin of the Rocks (Louvre).jpg|x298px]]
|  style="text-align:center" | [[Imagem:Leonardo da Vinci - Virgin of the Rocks (National Gallery London).png|x298px]]
|- style="text-align:center, vertical-align:top"
|align=center|''[[Virgem dos Rochedos]]''<br>Versão do [[Museu do Louvre|Louvre]]<br> <small>(primeira versão)<br>1483–1486</small>
|align=center|''Virgem dos Rochedos''<br>Versão de [[National Gallery (Londres)|Londres]]<br> <small>(segunda versão)<br>1495–1508</small>
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Em [[Milão]], o primeiro registo de Leonardo da Vinci é um contrato de uma Confraria religiosa intitulada Imaculada Conceição, datado de 25 de abril de 1483, para a pintura de um retábulo para abrilhantar o [[altar]] da capela de São Francisco, o Grande.<ref name="Kemp"/> O resultado seria o terceiro mais importante trabalho pictórico do artista, ''[[A Virgem dos Rochedos]]''.<ref group="nb">''[[A Virgem dos Rochedos]]'' (por vezes chamada de ''Madona dos Rochedos''), é o título utilizado para designar um conjunto de duas pinturas de composições quase idênticas, que foram, pelo menos em sua maior parte, pintadas por Leonardo da Vinci. Estas versões estão atualmente no [[Museu do Louvre]], [[Paris]] e [[National Gallery (Londres)|National Gallery]], [[Londres]].</ref><ref name="giornale"/><ref name="Cheramy">{{Citar web|url=http://www.bbc.co.uk/portuguese/cultura/story/2005/10/051015_davinciml.shtml|título=Obra inédita de Leonardo da Vinci é exibida na Itália|publicado=''[[BBC News]]''|data=15-10-2005}}</ref><ref name="giornale">{{Citar web|url=http://giornale.regione.marche.it/archivio/num0705/index2.htm?corpocentrale=art03.htm|título=Giornale Regione Marche|acessodata=1-6-2009|arquivourl=https://web.archive.org/web/20140407072525/http://giornale.regione.marche.it/archivio/num0705/index2.htm?corpocentrale=art03.htm#|arquivodata=7 de abril de 2014|urlmorta=yes}}</ref><ref>{{Citar web|url=http://www.cultura.marche.it/CMDirector.aspx?id=2854|título=ANCONA - La mostra di Leonardo entusiasma Ancona e la stampa nazionale e internazionale Acessado 1 de junho de 2009}}</ref>

A encomenda era a execução de pinturas com a ajuda dos irmãos [[Giovanni Ambrogio de Predis|Ambrogio]] e Evangelista de Predis, para um grande e complexo altar, já construído anteriormente por Giacomo da Maiano.<ref name="Kemp"/><ref name=Wasser/> Leonardo, encarregado do painel central, escolheu pintar um enfático momento da [[Criança|infância]] de [[Cristo]], quando o pequeno [[João Baptista]], com a proteção do anjo [[Uriel]], conheceu a [[Sagrada Família]] numa gruta do [[Egito]], cena da [[tradição cristã]] dos [[livros apócrifos]] e de uma [[Florença]] deixada para trás, de numerosas lendas sobre [[João Batista|São João Batista]].<ref>L. Cirlot (dir.), ''Museo del Louvre II'', Col. «Museos del Mundo», Volume 4, Espasa, 2007. ISBN 978-84-674-3807-9, pp. 87</ref><ref>{{Citar web|título=The Mysterious Virgin|publicado=[[National Gallery (Londres)]]|url=http://www.nationalgallery.org.uk/collection/features/potm/2006/may/feature1.htm|acessodata=27 de setembro de 2007|arquivourl=https://web.archive.org/web/20071015062743/http://nationalgallery.org.uk/collection/features/potm/2006/may/feature1.htm#|arquivodata=15-10-2007|urlmorta=yes}}</ref> Neste cenário rochoso que evoca a um passeio de infância do artista ao Monte Ceceri (próximo do território [[Florença|florentino]]),<ref name="leo"/> João reconhece e adora [[Jesus]] como o [[Cristo]]. A pintura mostra uma misteriosa beleza como as graciosas figuras ajoelhadas em adoração em torno do Menino Jesus, em uma paisagem selvagem de queda de rochas e um vale de águas azuis, e coincide com a abandonada ''[[A Adoração dos Magos (Leonardo da Vinci)|Adoração dos Magos]]'' devido ao seu naturalismo e contraste de luz e sombra (''[[chiaroscuro]]''),<ref name="leo"/> aqui distintamente visível. A pintura solenemente declara a riqueza do conhecimento [[estilo (arte)|estilístico]] do traje e da sua representação, a julgar pela concepção notável do vestuário de [[Uriel]] (que compete com a simples túnica enegrecida azul da Virgem), impressa numa figura sóbria e imponente, que perde lugar na segunda versão onde assume outra pose, desta feita mais singela, cedente a uma nova Virgem vestida de um manto de azul brilhante, suavizando o cenário áspero<ref name="leo"/> e contrastando com a representação da primeira versão. Apesar das avantajadas medidas, cerca de 200 por 120&nbsp;cm (a segunda versão existente cerca de 190 por 120&nbsp;cm), a pintura da Virgem nas Pedras não é tão complexa quanto a encomenda dos [[monges]] de São Donato, constando em cena somente quatro figuras em vez de cerca de cinquenta — cuja forma conjunta completa uma [[pirâmide]] triangular — numa paisagem rochosa, em vez de detalhes arquitetônicos. Eventualmente, a pintura foi acabada. De fato, duas versões desta pintura foram feitas, uma entregue a Confraria religiosa e a outra levada para a [[França]] pelo próprio Leonardo.<ref name="leo"/>

Acredita-se que a versão do [[Museu do Louvre|Louvre]] seja a primeira das versões, pintada entre 1483–1486, ou mais cedo.<ref name="MD">National Gallery Catalogues: ''Catalogue of the Earlier Italian Schools'', Martin Davies, National Gallery Catalogues, London 1961, reprinted 1986, ISBN 0-901791-29-6.</ref> A segunda versão, pertencente a [[National Gallery (Londres)|National Gallery]] desde 1880, foi vendida pela igreja em 1781, e, certamente, em 1785 tornou-se posse de Gavin Hamilton, que a levou para a [[Inglaterra]], onde passou por várias coleções.<ref name="MD"/> Nesta versão é provável a participação de outros artistas como [[Giovanni Ambrogio de Predis|Ambrogio de Pedris]], e, de certo modo, mesmo tratando-se de uma pintura mais madura, seu naturalismo perde lugar para um idealismo muito maior do que o da versão anterior.<ref name="leo"/> Atualmente, existe a especulação de uma outra versão<ref name="Cheramy"/> (''Versão Cheramy''), em que Leonardo tenha participado, cronologicamente anterior a versão de [[National Gallery (Londres)|Londres]].<ref name="Cheramy"/>

==== Encargos na Corte ====
[[Imagem:Leonardo_da_Vinci_-_Lady_with_an_Ermine.jpg|thumb|esquerda|upright|Retrato de Cecília Gallerani, ''[[Dama com Arminho]]''. É possível notar, na ponta dos dois dedos inferiores, retoques grosseiros, assim como na região esquerda do modelo, efeito de restaurações posteriores.]]

Entre 1487 e 1490, Leonardo assume uma posição de destaque na [[corte (realeza)|corte]] milanesa. O seu trabalho não se resumia a pintar, e entre outras coisas, também era responsável pela organização de festividades, trabalho que intimamente não o contentava;<ref name="She"/> trabalhou vários anos na realização de uma [[estátua equestre]] para o antecessor de Ludovico, {{lknb|Francesco|I||Sforza}}, que nunca concluiu devido a gastos na defesa<ref>{{citar livro|ultimo=Isaacson|primeiro=Walter|ano=2017|titulo=Leonardo da Vinci|local=Rio de Janeiro|editora=[[Intrínseca]]|pagina=193|isbn=978-85-510-0257-5}}</ref> e na edificação de estruturas defensivas, como arquiteto militar do duque. Leonardo também participou da decoração de quartos e apartamentos da corte (sendo somente parte da ''Salla delle Asse'' trabalhada por volta de 1498, o que restou deste encargo), e na decoração do refeitório dos padres dominicanos de [[Santa Maria delle Grazie]] (1495–1498).<ref name="Kemp"/>

É nesta época de grandes feitos que inúmeros retratos de mulheres intimamente ligadas ao seu patrono são realizados, entre eles o retrato de uma jovem muito admirada na corte, cujo resultado seria uma mistura da linguagem iconográfica de ''[[Ginevra de' Benci]]'' e o naturalismo da ''[[Virgem dos Rochedos]]''. Entre as suas obras acabadas ocupa uma posição de destaque um retrato de uma senhora da [[aristocracia]], que segura nas mãos um arminho: o retrato de Cecília Gallerani, mundialmente conhecido como ''[[Dama com Arminho]]''. Pintado por volta de 1488, o quadro concentra todas as inovações de Leonardo na época: a representação do rosto virado em uma posição de três-quartos, o gesto da mão,<ref group="nb">Desde o abandono do retrato de perfil, pintores tornaram-se particularmente atentos aos gestos das mãos.</ref> ''a definição da forma pela luz'' e ''a representação do movimento interrompido''<ref>Janice Shell, ''Léonard de Vinci'', rmn, 1993, p. 32</ref> visando uma estrutura helicoidal.<ref name="leo"/> Cecília parece reagir à presença de alguém fora da pintura, em um movimento de giros de cabeça e tronco, o arminho de tamanho um tanto exagerado, repete-lhe o gesto, a mão curvada elegantemente corresponde, por sua vez, ao movimento do animal, criando um sintonia entre modelo e o arminho.<ref name="leo"/>

De fato, a [[ícone|linguagem iconográfica]] utilizada por Leonardo nesta obra — que nos remete a uma pintura de sua fase inicial, a ''[[Ginevra de' Benci]]'' —, fez com que permanecessem vários mistérios em relação ao simbolismo do arminho. Acredita-se que o [[arminho]] é uma alusão ao apelido da jovem aristocrata,<ref name="leo"/> visto que o som de «Gallerani» é remanescente da acepção grega para arminho, "galée". Noutra vertente, o animal é considerado um sinal de pureza, pois, acreditava-se, o arminho preferia morrer em uma caçada, do que se refugiar em alguma toca, para não sujar seu manto branco.<ref name="Kemp"/><ref>Ms H, fol. 12 r</ref> Porém, a razão mais provável é a terceira, ou seja, a alusão a Ludovico Sforza.<ref name="leo"/> A jovem era a amante de eleição de Ludovico e, a partir de meados de 1488, este começou a usar o arminho como um dos seus emblemas. Assim Ludovico, sob a simbólica forma de animal, surge no regaço da jovem, bem penteado e acariciado pelas mãos da sua amante. Existem provas documentais de que o quadro pertenceu a retratada.<ref name="leo"/>

=== Obras da década de 1490 ===
* '''Retratos de Perfil'''
{| cellpadding="0" cellspacing="0" style="float:right; border:1px solid #ccc; background:#fff;"
|-
|
{| cellspacing=3 cellpadding=3 style="background:#fff;"
|  style="width:160px; text-align:center;"|[[Imagem:Ambrogio de Predis - Ritratto di una dama.jpg|155px]]
|  style="width:160px; text-align:center;"|[[Imagem:Profile of a Young Fiancee - da Vinci.jpg|175px]]
|-
|align=center|''Retrato de Mulher de Perfil''
|align=center|''La Bella Principessa''
|}
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O ''Retrato de Mulher de Perfil'' (c. 1493–1495), trata-se do retrato da esposa de Ludovico Sforza, Beatriz d'Este. Pintado, provavelmente, por [[Giovanni Ambrogio de Predis|Ambrogio de Pedris]], com a qualidade do traço da cabeça da retratada sugerindo, segundo Martin Kemp, professor emérito de pesquisa em [[história da arte]] na [[Universidade de Oxford]], que Leonardo tenha participado da pintura, se responsabilizando pelas bases do desenho.<ref name="Kemp"/> A atribuição é reforçada de forma recíproca com a atribuição de um quadro a que, inicialmente, foi dada origem alemã, do {{séc|XIX}}, mas que foi, em 2009, atribuído a Leonardo.<ref>{{Citar web|url=http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1404930|data=13-10-2009|título=Descoberto novo quadro de Leonardo Da Vinci|autor=público.pt|acessodata=13-10-2009|arquivourl=https://web.archive.org/web/20091016034200/http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1404930#|arquivodata=16-10-2009|urlmorta=yes }}</ref> Trata-se de um retrato de mulher igualmente de perfil e com características semelhantes ao retrato de Cecília Gallerani, que foi identificado graças a uma [[impressão digital (anatomia)|impressão digital]] e análises científicas. Inicialmente denominado ''Mulher de Perfil com Vestido da Renascença'', foi renomeado de ''La Bella Principessa'' por Kemp, que identificou a retratada como Bianca Sforza, filha de [[Ludovico Sforza]] e sua amante Bernardina de Corradis. Os membros da família Sforza sempre foram retratados em perfil, em contraste com as amantes de Ludovico que não eram. Por volta deste período datam-se mais dois retratos atribuídos ao artista, o inacabado ''[[Retrato de um Músico]]'', seu único retrato pictórico masculino e ''[[La Belle Ferronière]]'', retrato de Lucrezia Crivelli, amante de Ludovico, encerrando um ciclo de retratos femininos na corte milanesa. Há uma referência documentada de uma encomenda, possivelmente do duque Ludovico Sforza, presente em uma lista que instruía um de seus funcionários, Marchesino Stanga, com tarefas que lhe exigiam atenção.<ref name="Kemp"/>
[[Imagem:Última_CenaII.jpg|upright=1.5|thumb|Leonardo pintou ''[[A Última Ceia (Leonardo da Vinci)|A Última Ceia]]'', um incrível trabalho, o mais sereno e distante do mundo temporal, durante anos caracterizado por conflitos armados, intrigas, preocupações e emergências.<ref name="Richard"/><ref name="Vezzosi3">Capítulo 3: «À Milan au temps des Sforza», de Alessandro Vezzosi. En ''[[Leonardo da Vinci: Arte e Ciência do Universo|Léonard de Vinci : Art et science de l'univers]]''. Col: «[[Découvertes Gallimard]]», 293 (em francês). Paris: Gallimard, 1996.</ref><ref name="Liana">Liana Bortolon. The Life and Times of Leonardo, Paul Hamlyn, London, 1967.</ref>]]

A pintura mais famosa de Leonardo, da década de 1490, é ''[[A Última Ceia (Leonardo da Vinci)|A Última Ceia]]'' (1495–1498), pintada no refeitório dos padres dominicanos de Santa Maria delle Grazie em [[Milão]]. É uma obra fundamental da [[história da Arte]]. A pintura apresenta a [[Última Ceia]], partilhada por [[Jesus]] com seus [[Doze apóstolos|discípulos]], antes de sua captura e execução. Mostra o momento específico em que Jesus, de acordo com o relato [[Bíblia|bíblico]], teria dito aos apóstolos que um deles o trairia. Leonardo mostra a consternação que esta afirmação provocou entre os doze seguidores de Jesus.<ref name=leo/>

Isto, de acordo com Vasari, estava além da compreensão do [[prior]], que o atormentou até que Leonardo pedisse a intervenção de Ludovico. Vasari descreve como Leonardo, atormentado com a dúvida de sua capacidade de retratar os rostos de Cristo e do traidor Judas, disse ao duque que seria obrigado a usar o próprio prior como seu modelo.<ref name=Vasari/><ref group="nb">Leonardo buscava por rostos ideais para a caracterização de Jesus e o seu traidor.</ref>

Quando terminada, a pintura foi aclamada como uma obra-prima do desenho e da caracterização,<ref name=Vasari/> porém rapidamente deteriorou-se, a tal ponto que, cem anos depois de seu término, a obra foi descrita por um observador seu como "completamente arruinada".<ref name="leo"/> Leonardo, em vez de usar a técnica mais confiável do [[afresco]], utilizou-se da [[Têmpera (pintura)|têmpera]] sobre uma superfície feita basicamente de [[gesso]] — o que resultou num material sujeito ao [[mofo]] e a esfarelar-se.<ref name="leo"/> Apesar disso, a pintura continua a ser uma das obras de arte mais reproduzidas de todos os tempos, e incontáveis cópias suas são feitas corriqueiramente, das maneiras mais variadas — de [[tapete]]s a [[camafeu]]s.<ref name="leo"/>

Explode em Milão a Segunda Guerra Italiana (1499–1504), e [[Ludovico Sforza]] é deposto. Após a destruição de seu modelo em argila para o ''Gran Cavallo'' pelas tropas francesas, Leonardo sente-se fortemente motivado a abandonar a cidade. Acompanhado de Salai e seu amigo [[Luca Pacioli]] parte, passando por [[Mântua]] e depois [[Veneza]], sendo aí empregado como engenheiro e [[arquitetura militar|arquiteto militar]], e, no ano seguinte, vai para [[Florença]].<ref name="leo"/>

=== Obras da década de 1500 ===
==== Retorno a Florença, 1500–1506 ====
{| cellpadding="0" cellspacing="0" style="float:left; border:1px solid #ccc; background:#F8F9FA; font-size:small"
| style="width:300px" |
{| cellspacing=3 cellpadding=3 style="width:200px"
|- style="text-align:center, vertical-align:top"
| [[Imagem:Madonna z wrzecionem.jpg|x212px]]
| [[Imagem:Madonna of the Yarnwinder.jpg|x218px]]
|}
<div style="margin-left:8px">Duas versões da ''[[Virgem do Fuso]]'' atribuídas ao ateliê de Leonardo como cópias de um original perdido ou sob instruções do mestre</div>
|}

Em [[Florença]] estão documentadas uma ou duas pequenas pinturas da Virgem com o Menino, trabalhadas por Leonardo e seu ateliê, por volta de 1501<ref name="Kemp"/> em uma carta de Pietro da Novellara para [[Isabella d'Este]], ''a grande dama do Renascimento'' protetora das artes em [[Mântua]].<ref name="leo"/><ref>{{Citar web|url=http://www.leonardo3.net/leonardo/paintings.htm|título=I Dipinti di Leonardo da Vinci|acessodata=12-6-2009}}</ref> A pintura da ''[[Virgem do Fuso]]'' — como no caso da ''[[Virgem dos Rochedos]]'' com mais de uma versão — destinava-se ao secretário de Estado francês Florimond Robertet, sendo-lhe entregue, provavelmente, uma de suas versões em 1507, em [[Blois]].<ref name=unvl>{{Citar web|url=http://www.universalleonardo.org/work.php?id=313|título=Madonna of the Yarnwinder (The Lansdowne Madonna)|publicado=www.UniversalLeonardo.orgacessodata=12-6-2009}}</ref>

A ''[[Virgem do Fuso]]'' retrata uma cena de um forte vínculo entre mãe e filho — um amor maternal que se repetiria em pinturas como ''[[A Virgem e o Menino com Santa Ana]]'' —, o que leva a crer que a pintura fosse destinada a devoção privada.<ref name=unvl/> O nome da obra baseia-se no fuso de significado ambíguo presente na pintura. Ao longo dos tempos, vários críticos têm atribuído diversas interpretações ao fuso, mas o mais certo é mesmo que represente uma cruz, mas simplesmente, de forma simbólica.<ref name=unvl/>

De fato, a enorme inteligência e criatividade de Leonardo permitiam-lhe tratar todos os assuntos que lhe provocavam algum interesse recorrendo a símbolos. Caso queira representar uma cruz, especialistas apontam duas hipóteses, sendo a mais provável a segunda. Muitos creem, baseando-se nas cópias existentes, que o Menino mira o fuso (simbolicamente, a cruz) com uma devoção perplexa, reforçada pela expressão do seu olhar, que parece agradado com o objeto que tem em mãos. No entanto, em segunda hipótese está a ideia de que o Menino brinca com o fuso com alegria, o que seria considerado uma heresia na altura em que foi pintada, caso este represente uma cruz. A imagem de Jesus brincando com a cruz não seria aceita pela conservadora sociedade, e menos ainda pela Igreja e pelo [[Inquisição|Tribunal Inquisidor]], o que reforçaria os fins de devoção privada.<ref name=unvl/> Atualmente, existem duas versões associadas a Leonardo,<ref name=unvl/> mas as atribuições não são unânimes. É provável que as pinturas sejam cópias do original de Leonardo, de autoria dos pupilos do artista, com ou sem o auxílio do mestre.<ref name=unvl/>

Entre as obras realizadas por Leonardo na década de 1500 está um pequeno retrato, conhecido como ''[[Mona Lisa]]'' ou ''La Gioconda'', "a risonha". A pintura é famosa principalmente pelo sorriso elusivo no rosto da retratada, e pela qualidade misteriosa, possivelmente provocada pelo fato de que o artista sombreou sutilmente os cantos de sua boca e olhos, para que a natureza exata do sorriso não pudesse ser determinada. Este sombreado peculiar, pelo qual a obra é conhecida, veio a ser chamado de ''[[sfumato]]'' ("esfumaçado"). Vasari, que se acredita ter conhecido a pintura apenas pela sua reputação, disse que o seu "''sorriso era tão agradável que parecia ser divino, em vez de humano; e aqueles que o viram ficaram espantados ao descobrir que ele parecia tão vivo quanto o original''".<ref name=Vasari/> {{#tag:ref|Se Vasari viu ou não a Mona Lisa é motivo de controvérsias; a opinião de que ele ''não'' teria visto a pintura baseia-se principalmente no fato de que ele descreve a Mona Lisa com [[sobrancelha]]s. Daniel Arasse, em ''Leonardo da Vinci'', discute a possibilidade de que Leonardo poderia ter pintado o retrato com sobrancelhas, e tê-las removido posteriormente (sobrancelhas estavam "fora de moda" em meados do {{séc|XVI}}). A análise da pintura feita através de exames em aparelhos de alta resolução, por Pascal Cotte, revelou que a Mona Lisa, de fato, teve sobrancelhas e [[cílio]]s, que foram removidos mais tarde.<ref>{{citar jornal|publicado=[[BBC News]]|título=The Mona Lisa had brows and lashes|data=22-10-2007|url=http://news.bbc.co.uk/2/hi/entertainment/7056041.stm|acessodata=22 de fevereiro de 2008}}</ref>|group="nb"}}
[[Imagem:Mona_Lisa,_by_Leonardo_da_Vinci,_from_C2RMF_retouched.jpg|thumb|upright|''[[Mona Lisa]]'' (1503–1507 — [[Museu do Louvre|Louvre]])]]

Outra característica observada nesta obra é o vestido sem adornos (uma maneira de evitar que o espectador não tenha a sua atenção desviada dos olhos e das mãos da retratada), o cenário de fundo, dramático, no qual o mundo parece estar no estado de fluxo contínuo, com uma coloração controlada, e a natureza extremamente suave da técnica de pintura, que emprega [[tinta a óleo|tintas a óleo]] aplicadas como se fossem [[têmpera (pintura)|têmpera]], e misturadas de tal maneira na superfície que as pinceladas não podem ser percebidas.{{#tag:ref|Jack Wasserman menciona o "''tratamento inimitável das superfícies''" desta pintura.<ref name=Wasser/> |group="nb"}} Vasari expressou a opinião de que a maneira com que Leonardo fez a pintura faria mesmo "''o mais confiante dos mestres'' (…) ''desesperar-se e desanimar''".<ref name=Vasari/> O estado perfeito de conservação em que a pintura se encontra, e o fato de que não existem outros sinais de reparos relevantes ou pinturas sobrepostas é extremamente raro numa pintura desta idade.<ref name="leo"/>

A identidade do modelo é motivo de controvérsias, acredita-se que seja Lisa del Giocondo (Lisa Gherardini), mulher de um comerciante florentino, [[Francesco del Giocondo]], com base em notas escritas de Agostino Vespucci de 1503 em um livro impresso de Cícero, de 1477 (parte do acervo de livros datados da primeira fase da imprensa), encontradas na Biblioteca da Universidade de Heidelberg, confirmando a afirmação de Vasari, que identificou a pintura como "''Monalisa''" em sua publicação em 1550, em referência à Lisa del Giocondo. Descobriu-se também que Lisa tinha sido mãe recentemente, e o retrato foi realizado possivelmente em comemoração da recente maternidade.<ref>{{Citar web|url=http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u363445.shtml|título=Cientistas alegam ter dado fim a mistério de "Monalisa"|acessodata=17 de julho de 2009}}</ref> Esta teoria é reforçada pela descoberta de um fino véu negro — utilizado pelas aristocratas toscanas durante, e alguns meses após a gestação —, durante pesquisas do Centro de Pesquisa e Restauração dos Museus da França (C2RMF) e o Conselho Nacional de Pesquisas do Canadá (NRC), quando a pintura foi submetida ao exame em infravermelho.<ref>Reportagem de Antônio Ribeiro publicada na Revista Veja, edição 1976 de 4 de outubro de 2006.</ref>

Lillian Schwartz, cientista dos Laboratórios Bell, sugere que a Mona Lisa é, na verdade, um autorretrato de Leonardo, porém, vestido de mulher. Esta teoria baseia-se no estudo da análise digital das características faciais do rosto de Leonardo e os traços do modelo. Comparando um autorretrato de Leonardo com a mulher do quadro, verifica-se que as características dos rostos alinham-se perfeitamente. Essa hipótese ganha ênfase em ''[[O Código da Vinci]]'', ''best-seller'' de [[Dan Brown]]. O quadro está exposto no Museu do Louvre desde 1804 e é a maior atração dos seis milhões de visitantes anuais do museu.<ref>{{Citar web|url=http://lazer.hsw.uol.com.br/leonardo-da-vinci2.htm#|titulo=Como Tudo Funciona|acessodata=24 de julho de 2014|arquivourl=https://web.archive.org/web/20141129035231/http://lazer.hsw.uol.com.br/leonardo-da-vinci2.htm#|arquivodata=29 de novembro de 2014|urlmorta=yes }}</ref> Em 1506, o então governador francês do [[ducado de Milão]], Charles d'Amboise, solicitou ao governo de [[Florença]] a permissão para a viagem de Leonardo a Milão, para resolver o problema de trabalhos pendentes. A permissão concedida era de três meses, entretanto, o artista acabou permanecendo na cidade mais tempo do que o previsto.<ref name="leo"/>

==== Retorno a Milão, 1506–1513 ====
[[Imagem:Leonardo da Vinci - Virgin and Child with St Anne C2RMF retouched.jpg|thumb|esquerda|upright|''[[A Virgem e o Menino com Santa Ana]]'' (1508) — Louvre]]

Não se sabe ao certo a natureza da origem do trabalho inacabado, é sugerido tratar-se da ''[[Virgem dos Rochedos]]'' versão de [[Londres]], em que, em uma sentença judicial datada de 27 de abril, era cobrada a finalização da pintura à Leonardo e [[Giovanni Ambrogio de Predis|Ambrogio de Pedris]].<ref name="leo"/> Possivelmente, a pintura inicial tratava de uma cena de adoração ao Menino [[Jesus]], já que exames em infravermelho realizados em 2005 revelaram uma pintura diferente oculta, por baixo da versão visível,<ref name="bbc-ir">{{citar jornal|url=http://news.bbc.co.uk/1/hi/uk/4639945.stm|publicado=BBC News|data=1 de julho de 2005|título=Nova pintura de Leonardo da Vinci}}</ref> entretanto, Leonardo retomou a composição da anterior ''[[Virgem dos Rochedos]]'' de 1483, com leves alterações, e figuras maiores e mais monumentais do que a versão anterior. O fator da execução da mesma pintura é alvo de controvérsias, mas sabe-se que a versão de [[Londres]] foi a entregue, de fato, a confraria, mesmo provavelmente, ainda inacabada, e a anterior ficou em mãos de Leonardo.<ref name="leo"/>

Leonardo teve uma estranha carreira, de não cumprimento de prazos, de encomendas inconcluídas ou mesmo jamais entregues, o que resultava em clientes insatisfeitos e frequentes cobranças.<ref name="Bio"/><ref name="Kemp"/> Destes trabalhos inacabados, parece existir um importante que retoma as posições oblíquas de pinturas anteriores como ''[[São Jerónimo no deserto|São Jerônimo no Deserto]]'', e cuja origem não é necessariamente de uma encomenda.<ref name="leo"/>

Nessa nova pintura, a coroação dos muitos desenhos e esboços do tema,<ref name="Kemp"/> abordado pelo artista em diversas ocasiões como em ''[[A Virgem, o Menino, Sant'Ana e São João Batista]]'',<ref name="leo"/> Leonardo emprega novamente o sutil efeito do ''[[sfumato]]''. A pintura retrata a [[Virgem Maria]] (cujo manto parece evocar a igualmente oblíqua ''[[Virgem Benois]]'', uma de suas primeiras ''[[Madona]]s''), seu filho [[Jesus]] e sua mãe [[Santa Ana]], avó de Jesus, em uma cena privada e intimista. O que faz esta pintura incomum é que há duas figuras posicionadas obliquamente, sobrepostas. Maria está sentada no joelho de sua mãe, Santa Ana. Ela se inclina para frente para segurar o menino Jesus que brinca (um tanto grosseiramente) com um cordeiro, sinal de seu próprio e vindouro sacrifício. Essa pintura copiada muitas vezes, foi influência para [[Michelangelo]], [[Rafael Sanzio|Rafael]] e [[Andrea del Sarto]],<ref name="leo"/> e através deles [[Pontormo]] e [[Correggio]]. Na composição, Leonardo mostra novidades que serão adotadas principalmente pelos pintores venezianos [[Tintoretto]] e [[Paolo Veronese|Veronese]]. Essa pintura assim como ''[[Mona Lisa]]'' acompanharia Leonardo desde então, entretanto devido a problemas, ficou por concluir.<ref name="leo"/>

=== Últimas obras ===
[[Imagem:Leda and the Swan 1505-1510.jpg|thumb|upright|''[[Leda e o Cisne (Leonardo da Vinci)|Leda e o Cisne]]'', cópia de [[Cesare da Sesto]], [[Leonardeschi|pupilo de Leonardo]], baseado no original perdido]]
Em 1512, [[Massimiliano Sforza]], filho de Ludovico toma posse do ducado de Milão, após a expulsão das tropas francesas de Luís&nbsp;XII, e Leonardo viu-se sem patrono. Em 1513, o filho de Lourenço ''il Magnifico'', Juliano de Médici, o então chefe do estado de [[Florença]], fez um convite para Leonardo viajar a [[Roma]], que estava sobre o controle do seu irmão mais velho, ''Giovanni'' (João), agora {{lknb|Papa Leão|X}}.<ref name="She"/>

==== Em Roma, 1513–1516 ====
Em 1513, Leonardo está hospedado no Palácio do Belvedere, no [[Vaticano]], onde residiria até 1516, época em que seu rival [[Michelangelo]] e [[Rafael Sanzio|Rafael]] eram ativos em [[Roma]].<ref name="She"/> Leonardo então sente-se envolvido em crescentes problemas resultantes de seu afastamento da corte — incluindo intrigas com [[Michelangelo]] —, e depois é acusado e punido pelo papado devido aos seus estudos anatômicos, sendo proibido de continuar seus estudos por possíveis irregularidades sacrílegas, sendo que de seu patrono, Juliano, não houve nenhuma intervenção.<ref name="She"/>

Suas últimas pinturas datam deste período em que o avanço de um problema de articulação em uma das mãos o faz aos poucos perder as forças, sendo que após esse período não pinta mais.<ref name="abril"/> Suas últimas pinturas são ''[[São João Batista (Leonardo da Vinci)|São João Batista]]'' em que novamente emprega o sutil efeito do ''Sfumato'', ''[[Leda e o Cisne]]'' seu único nu, hoje perdido, e devido a fraqueza de sua mão, estava incapaz de dar continuidade a ''[[A Virgem e o Menino com Santa Ana|Virgem e o Menino com Santa Ana]]'', que leva consigo, juntamente de outras pinturas como ''[[Mona Lisa]]'' para a [[França]] em 1516, onde viveria seus últimos anos acompanhado de Salai e [[Francesco Melzi]], seu pupilo preferido.<ref name="leo"/>

== Cientista e inventor ==
=== Introdução ===
[[Imagem:Leonardo da Vinci - Studies of the foetus in the womb.jpg|thumb|upright|''Estudos de embriões'' (1510–1513) nos quais retrata imagens impossíveis de se ver na época, mas completamente atuais]]
O [[humanismo]] [[Renascimento|renascentista]] não via polaridades mutuamente exclusivas entre as ciências e as artes, sendo os estudos de Leonardo, em ciências e engenharia, tão impressionantes e inovadores como o seu trabalho artístico, gravados em cadernos compostos por cerca de {{Formatnum:13000}} páginas de notas e [[desenho]]s que fundem arte e filosofia natural (precursora da ciência moderna). Estas notas foram feitas e mantidas cotidianamente durante toda a vida de Leonardo e suas viagens, como ele fez em suas observações contínuas do mundo ao seu redor.<ref name=leo/>

Os cadernos são, em sua maioria, escritos de forma invertida (da direita para a esquerda). A razão pode ter sido mais uma oportunidade prática, do que por razões de sigilo como muitas vezes é sugerido. Sendo Leonardo provavelmente [[canhoto]], é possível que lhe era mais fácil escrever da direita para a esquerda.<ref name="Canhoto"/>

Suas anotações e desenhos mostram uma enorme gama de interesses e preocupações, algumas tão banais como as listas de compras e as pessoas que lhe deviam dinheiro, e outras tão intrigantes como desenhos de asas e sapatos para caminhar sobre a água. Há composições de pinturas, estudos de detalhes e planejamentos, estudos de rostos e gestos, de animais, bebês, dissecações, estudo de plantas, formações rochosas, piscinas de hidromassagem, máquinas de guerra, [[helicóptero]]s e [[arquitetura]].<ref name=leo/>

Essas páginas de cadernos originalmente soltas, de diferentes tamanhos, distribuídas após sua morte, encontraram caminho em coleções importantes, como a Royal Library do [[Castelo de Windsor]], o [[Museu do Louvre]], a [[Biblioteca Nacional da Espanha]], o [[Museu Vitória e Alberto]], a [[Biblioteca Ambrosiana]] de [[Milão]], que detém os doze volumes ''[[Codex Atlanticus]]'', e a [[Biblioteca Britânica]] em [[Londres]], que disponibilizou de forma on-line uma seleção a partir do seu caderno ''BL Arundel MS 263''.<ref>{{Citar web|título=Sketches by Leonardo|obra=Turning the Pages|publicado=[[British Library]]|url=http://www.bl.uk/onlinegallery/ttp/ttpbooks.html|acessodata=27 de setembro de 2007}}</ref> O ''[[Codex Leicester]]'' é a única grande obra científica de Leonardo em mãos privadas. É propriedade de [[Bill Gates]] e é exibido uma vez por ano em diferentes cidades pelo mundo.<ref>{{citar web|url=http://news.softpedia.com/news/Shuffle-Through-Bill-Gates-039-Codex-Leicester-by-Leonardo-da-Vinci-47122.shtml|titulo=Shuffle Through Bill Gates' Codex Leicester by Leonardo da Vinci|data=14 de fevereiro de 2007|acessodata=17 de janeiro de 2013|língua=en|publicado=news.softpedia}}</ref>

Os estudos de Leonardo parecem ter sido destinados à publicação, porque muitas das folhas têm uma forma e ordem que facilitam a mesma. Em muitos casos, um único tópico, por exemplo, o coração ou o feto humano, é abordado em detalhes em palavras e imagens, em uma única folha.<ref>Windsor Castle, Royal Library, sheets RL 19073v-19074v and RL 19102 respectively.</ref>

=== Estudos científicos ===
{| class="toccolours" style="float:left; margin-left: 1em; margin-right: 2em; font-size: 85%; background:#F4F4F4; color:black; width:30em; max-width: 40%;" cellspacing="5"
| style="text-align: left;" |'''''[[Homem Vitruviano (desenho de Leonardo da Vinci)|Homem Vitruviano]]'''''
{| cellpadding="0" cellspacing="0" style="float:right; border:1px solid #ccc; background:#fff;"
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{| cellspacing=3 cellpadding=3 style="background:#fff;"
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|  style="width:160px; text-align:center;"|[[Imagem:Da Vinci Vitruve Luc Viatour.jpg|160px]]
|  style="width:160px; text-align:center;"|[[Imagem:Leonardo-Robot3.jpg|220px]]
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Datado do ano 1490, um estudo das proporções humanas baseado no tratado recém-redescoberto do arquiteto romano [[Vitrúvio]]. Leonardo debruçou-se sobre o que foi chamado o ''[[Homem Vitruviano (desenho de Leonardo da Vinci)|Homem Vitruviano]]'', o que acabou se tornando um dos seus trabalhos mais famosos e um símbolo do espírito renascentista. O desenho reproduz a anatomia humana conduzindo eventualmente ao desígnio do primeiro robô conhecido na história que veio a ser chamado de ''[[Cavaleiro mecânico de Leonardo|O Robô de Leonardo]]''.
|}

Leonardo tentou entender os fenômenos e descrevendo em detalhe extremo, e não enfatizou experiências ou explicações teóricas. Ao longo de sua vida, planejou uma [[enciclopédia]] baseado em desenhos detalhados de tudo. Como não dominava o [[latim]] e a [[matemática]], o ''Leonardo da Vinci cientista'' era ignorado pelos estudiosos contemporâneos, como evoca sua famosa frase ''uomo senza lettere'', em que claramente se refere a tais limitações. Na década de 1490, estudou matemática com seu amigo, o matemático [[Luca Pacioli]] e preparou uma série de gravuras — incluindo o ''[[Homem Vitruviano (desenho de Leonardo da Vinci)|Homem Vitruviano]]'' — para ilustrar o livro de Pacioli, ''[[Proporção áurea|De Divina Proportioni]]'', publicado em 1509.<ref name=leo/>

Parece que a partir do conteúdo de seus diários estava planejando uma série de tratados que seriam publicados em uma variedade de assuntos. Um tratado coerente sobre a [[anatomia]] foi dito ter sido observado durante a visita do cardeal secretário Louis D'Aragon, em 1517.<ref>{{citar livro|último=O'Malley|último2=Saunders|título=Leonardo on the Human Body|ano=1982|publicado=Dover Publications |local-publicação= New York}}</ref> Aspectos do seu trabalho sobre os estudos de anatomia, luz e de paisagem foram montados para a publicação por seu pupilo [[Francesco Melzi]] e, finalmente publicado como ''[[Trattato della Pittura|Trattato della Pittura de Leonardo da Vinci]]'', postumamente na [[França]] e na [[Itália]] em 1651, e na [[Alemanha]] em 1724,<ref>della Chiesa, p.117</ref> com gravuras baseadas em desenhos do pintor [[Classicismo|clássico]] [[Nicolas Poussin]]. Segundo Arasse, o tratado, que na França foi publicado em sessenta e duas edições em cinquenta anos, ocasionou que Leonardo fosse visto como ''o precursor do pensamento acadêmico francês sobre a arte''.<ref name=leo/>

Uma análise recente e exaustiva de Leonardo como cientista por Frtijof Capra<ref>Capra, Fritjof. The Science of Leonardo; Inside the Mind of the Genius of the Renaissance. (New York, Doubleday, 2007)</ref> defende que Leonardo era um tipo fundamentalmente diferente de cientistas como [[Galileu]], [[Newton]] e outros cientistas que o seguiram. Sua experimentação seguiu claro, abordagens com métodos científicos, e juntamente a sua teorização e hipotética voltada às artes, particularmente na pintura, o fizeram um Leonardo único e integrado, em que pontos de vista holísticos da ciência, fazem dele um precursor dos modernos sistemas teóricos e complexas escolas de pensamento.<ref>{{citar livro|ultimo=Isaacson|primeiro=Walter|data=2017|titulo=Leonardo da Vinci|local=Rio de Janeiro|editora=[[Intrínseca]]|pagina=201|isbn=978-85-510-0257-5}}</ref>

=== Anatomia ===
[[Imagem:Studies of the Arm showing the Movements made by the Biceps.jpg|thumb|upright|Estudo de ossos do braço (c.&nbsp;1510)]]

A formação de Leonardo da [[anatomia]] do corpo humano iniciou-se com o seu aprendizado no ateliê de [[Andrea del Verrocchio]], seu mestre insistia que todos os alunos deviam aprender anatomia. Como artista, ele rapidamente se tornou mestre da anatomia topográfica, realizando muitos estudos de [[músculo]]s, tendões e outras características anatômicas visíveis. Como um artista de sucesso, ele recebeu a permissão para dissecar cadáveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova, em [[Florença]] e mais tarde no hospital de Milão e [[Roma]]. Entre 1510 e 1511, colaborou em seus estudos o médico Marcantonio della Torre, e juntos elaboraram um trabalho teórico sobre a anatomia, em que Leonardo fez mais de 200 desenhos. Foi publicado apenas em 1680 (161 anos após sua morte), integrando o ''[[Trattato della Pittura]]''.<ref name="leo"/>

Leonardo desenhou muitos estudos sobre o esqueleto humano e suas partes, bem como os [[músculo]]s e nervos, o [[coração]] e o [[sistema vascular]], os órgãos sexuais, e outros órgãos internos. Ele fez um dos primeiros desenhos científicos de um feto no útero. Como artista, Leonardo observou e registrou cuidadosamente os efeitos da idade e da emoção humana sobre a [[fisiologia]], estudando em particular os efeitos da raiva. Ele também desenhou muitas figuras importantes que tinham deformidades faciais ou sinais de doença.<ref name="leo"/>

Ele também estudou e desenhou a anatomia de animais diversos, bem como, dissecando vacas, aves, macacos, ursos e rãs, e comparava seus desenhos em sua estrutura anatômica com o dos seres humanos. Ele também fez uma série de estudos de cavalos.<ref name="leo"/>

=== Engenharia e invenções ===
{{Artigo principal|Ciência e criações de Leonardo da Vinci}}

[[Imagem:Leonardo da Vinci helicopter and lifting wing.jpg|thumb|upright|Modelos de máquinas voadoras planejados por Leonardo]]

Durante sua vida, Leonardo era valorizado como um engenheiro. Em uma carta a [[Ludovico Sforza]], o [[Ducado de Milão|duque de Milão]], afirmou ser capaz de criar todos os tipos de máquinas, tanto para a proteção de uma cidade, quanto para o cerco. Quando ele fugiu para [[Veneza]] em 1499, encontrou emprego como engenheiro e [[arquitetura militar|arquiteto militar]] e concebeu um sistema de barricadas móveis para proteger a cidade de um ataque naval. Ele também tinha um esquema para desviar o fluxo do [[rio Arno]], um projeto no qual também trabalhou [[Nicolau Maquiavel]].<ref>{{citar livro|autor=Roger Masters|título=Machiavelli, Leonardo and the Science of Power|ano=1996}}</ref><ref>{{citar livro|autor=Roger Masters|título=Fortune is a River: Leonardo Da Vinci and Niccolo Machiavelli's Magnificent Dream to Change the Course of Florentine History|ano=1998}}</ref> Os cadernos de Leonardo incluem um vasto número de invenções, alguns de possível construção, outros impossíveis. Eles incluem instrumentos [[música|musicais]], bombas hidráulicas, canhões, entre outros.<ref name=leo/>

Em 1502, Leonardo da Vinci produziu um desenho de uma ponte como parte de um projeto de engenharia civil para o sultão {{lknb|Bajazeto|II}} de [[Istambul]]. Nunca foi construída, mas a visão de Leonardo foi ressuscitada em 2001 quando uma ponte menor, baseada no projeto dele, foi construída na [[Noruega]].<ref>{{Citar web|url=http://www.vebjorn-sand.com/thebridge.htm#|titulo=The Leonardo Bridge Project|acessodata=4 de fevereiro de 2010|arquivourl=https://web.archive.org/web/20070309154703/http://www.vebjorn-sand.com/thebridge.htm#|arquivodata=9 de março de 2007|urlmorta=yes }}</ref><ref>{{Citar web|url=http://bridgeinfo.net/bridge/index.php?ID=3|titulo=Da Vinci Bridge|acessodata=24 de setembro de 2019}}</ref><ref>{{Citar web|url=http://www.leonardobridgeproject.org|titulo=Leonardo Bridge Project home page|acessodata=25 de setembro de 2019|arquivourl=https://web.archive.org/web/20170111002940if_/http://www.leonardobridgeproject.org:80/|arquivodata=11 de janeiro de 2017|urlmorta=yes }}</ref>

Por maior parte de sua vida, Leonardo foi fascinado pelo fenômeno de voo, produzindo muitos estudos detalhados do voo dos [[pássaro]]s, incluindo o seu ''Codex sobre o Voo dos Pássaros'' de 1505, bem como planos para várias máquinas voadoras,<ref name=leo/> tentou aplicar seus estudos para os protótipos que desenhou, o primeiro batizado de <small>SWAN DI VOLO</small> (''Cisne voador''), segundo especialistas é de 1510, inclusive um [[helicóptero]] movimentado por quatro homens,{{#tag:ref|[[Walter Isaacson]], autor da biografia de 2017 sobre o polimata, é da opinião de que o [[helicóptero]] fosse uma peça teatral, pois "não demonstrou nenhum método que permitisse a um ser humano operá-lo".<ref>{{citar livro|ultimo=Isaacson|primeiro=Walter|data=2017|titulo=Leonardo da Vinci|local=Rio de Janeiro|editora=[[Intrínseca]]|pagina=65-66|isbn=978-85-510-0257-5}}</ref>|group="nb"}} e um planador cuja viabilidade já foi provada.<ref>The U.S. [[Public Broadcasting Service]] (PBS), aired in October 2005, a television programme called "[https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=Hnge32B0RDs Leonardo's Dream Machines]", about the building and successful flight of a glider based on Leonardo's design.</ref>

== Legado ==
[[Imagem:Milano Statua di Leonardo.jpg|esquerda|thumb|upright|Monumento dedicado a Leonardo da Vinci e seus pupilos na Piazza della Scala em [[Milão]], obra de Pietro Magni]]

Em vida, a fama de Leonardo foi tamanha que o rei da [[França]] levou-o como um troféu, o mantendo na velhice, e o tinha preso nos braços quando morreu. O interesse por Leonardo nunca afrouxou. As multidões ainda fazem filas para ver suas obras mais famosas, seu desenho mais famoso, hoje é estampa de camisetas e escritores, como [[Giorgio Vasari|Vasari]], continuam a maravilhar-se com seu gênio e especular sobre sua vida privada e, particularmente, sobre o que uma pessoa tão inteligente realmente acreditava intimamente.<ref name=leo/>

[[Giorgio Vasari]], na edição ampliada de ''[[Le vite de' più eccellenti pittori, scultori e architettori]]'', 1568,<ref>Vasari, p.255</ref> apresenta o seu capítulo sobre Leonardo da Vinci com as seguintes palavras:

{{quote|No curso natural dos acontecimentos, muitos homens e mulheres nascem com talentos notáveis, mas, ocasionalmente, de uma maneira que transcende a natureza, uma única pessoa é maravilhosamente dotada pelo céu com a beleza, graça e talento em abundância tal que ele deixa os outros homens para trás, todas as suas ações parecem inspiradas e, na verdade tudo o que faz claramente vem de Deus e não da habilidade humana. Todos reconhecem que isso era verdade em Leonardo da Vinci, um artista de beleza física excepcional, que mostrou infinita graça em tudo que ele fez e que cultivou seu gênio tão brilhante que todos os problemas que estudou, ele resolveu facilmente.}}

A admiração por Leonardo continuou comandada a partir de pintores, críticos e historiadores, refletida em muitas outras homenagens escritas. [[Baldassare Castiglione]], autor de ''Il&nbsp;Cortegiano'' ("O Cortesão"), escreveu em 1528: "(...) Outro dos maiores pintores nesse mundo olha para baixo sobre esta arte em que ele é inigualável (...)",<ref>{{citar periódico|autorlink=Baldassare Castiglione|primeiro=Baldassare|último=Castiglione|título=Il Cortegiano|ano=1528 }}</ref> enquanto o biógrafo conhecido como "Anônimo Gaddiano", escreve em 1540: "Seu gênio era tão raro e universal, que pode-se dizer que a natureza fez um milagre em seu nome (...)".<ref>"Anonimo Gaddiani", elaborating on ''Libro di Antonio Billi'', 1537–1542</ref>
[[Imagem:084 le vite, leonardo da vinci.jpg|upright|thumb|Retrato de Leonardo da Vinci em ''[[Le vite de' più eccellenti pittori, scultori e architettori|Le vite]]'', compêndio biográfico escrito por [[Giorgio Vasari|Giorgio Visari]]]]

O {{séc|XIX}} trouxe uma admiração especial pelo gênio de Leonardo, fazendo com que [[Henry Fuseli]] escrevesse em 1801: "Tal foi o alvorecer da arte moderna, quando Leonardo da Vinci quebrou adiante com um esplendor que afastasse a excelência anterior: formada por todos os elementos que constituem a essência do gênio (...)"<ref>{{citar periódico|primeiro=Henry|último=Fuseli|título=Lectures|volume=II|ano=1801}}</ref> Isto é ecoado por A. E. Rio, que escreveu em 1861: Ele elevou-se acima de todos os outros artistas com a força e a nobreza de seus talentos.'<ref>{{citar periódico|primeiro=A.E.|último=Rio|título=L'art chrétien|ano=1861}}</ref>

Por volta do {{séc|XIX}}, os cadernos de Leonardo já eram conhecidos, bem como suas pinturas. [[Hippolyte Taine]] escreveu em 1866: "Não pode haver no mundo um exemplo de outro gênio tão universal, tão incapaz de cumprimento, tão cheio de desejo para o infinito, tão naturalmente refinado, tanto à frente do seu século, e os séculos seguintes".<ref>{{citar periódico|primeiro=Hippolyte|último=Taine|título=Voyage en Italie|ano=1866}}</ref>

O famoso historiador de arte [[Bernard Berenson]] escreveu em 1896: "Leonardo é o artista, um dos quais pode-se dizer perfeito literalmente: nada do que tocou se transformou, se não em uma coisa de beleza eterna. Quer seja a seção transversal de um crânio, a estrutura de uma erva daninha, ou um estudo de músculos, ele, com seu sentimento de linha e de luz e sombra, sempre transformou isso em vida, comunicando valores".<ref>{{citar periódico|primeiro=Bernard|último=Berenson|autorlink=Bernard Berenson|título=The Italian Painters of the Renaissance|ano=1896}}</ref>

O interesse pelo gênio de Leonardo continuou inabalável; especialistas estudam e traduzem seus escritos, analisam suas pinturas com técnicas científicas, discutem sobre atribuições e buscam por trabalhos que nunca foram encontrados.<ref>{{Citar web|url=http://web.archive.org/web/20060505165842/http://www.artnewsonline.com/currentarticle.cfm?art_id=1240|título=ArtNews article about current studies into Leonardo's life and works|autor=Melinda Henneberger|publicado=Art News Online|acessodata=10 de janeiro de 2010}}</ref> Assim fazendo dele umas das pessoas mais notáveis e notórias da história da humanidade.

== Ver também ==
*[[Códice de Madri (Leonardo da Vinci)]]
*[[Mariano Taccola]]

{{Notas|grupo=nb}}

{{Referências}}

=== Bibliografia ===
{{InícioRef|colwidth=30em}}
* {{citar livro|ref=harv|último=Arasse|primeiro=Daniel|título=Leonardo da Vinci|publicado=Konecky & Konecky|ano=1998|isbn=978-1-56852-198-5}}
* {{citar livro|último=Baxandall|primeiro=Michael|autorlink=Michael Baxandall|título=Painting and Experience in Fifteenth Century Italy|ano=1974|publicado=[[Oxford University Press]]|isbn=978-0-19-881329-3|url=https://archive.org/details/paintingexperien00baxa }}
* {{citar livro|último=Bayer|primeiro=Andrea|url=http://libmma.contentdm.oclc.org/cdm/compoundobject/collection/p15324coll10/id/96665|título=Painters of reality: the legacy of Leonardo and Caravaggio in Lombardy|local=New York|publicado=The Metropolitan Museum of Art|ano=2004|isbn=978-1-58839-116-2}}
* {{citar livro|último=Bérence|primeiro=Fred|título=Léonard de Vinci, L'homme et son oeuvre|publicado=Somogy|ano=1965|id=Dépot légal 4° trimestre 1965}}
* {{citar livro|último=Berti|primeiro=Luciano|título=The Uffizi|ano=1971|publicado=Scala}}
* {{citar livro|último=Bortolon|primeiro=Liana|título=The Life and Times of Leonardo|publicado=Paul Hamlyn|local=London|ano=1967}}
* {{citar livro|último=Broek van den|primeiro=Marc|título=Leonardo da Vincis Erfindungsgeister. Eine Spurensuche|publicado=NA Verlag|local=Germany|ano=2018|isbn=978-3-96176-045-9}}
* {{citar livro|último=Brucker|primeiro=Gene A.|título=Renaissance Florence|publicado=Wiley and Sons|ano=1969|isbn=978-0-471-11370-6|url=https://archive.org/details/renaissanceflore00bruc }}
* {{citar livro|último=Capra|primeiro=Fritjof|autorlink=Fritjof Capra|título=The Science of Leonardo|publicado=Doubleday|local=US|ano=2007|isbn=978-0-385-51390-6|url=https://archive.org/details/scienceofleonard00capr }}
* {{citar livro|último=Cennini|primeiro=Cennino|título=Il Libro Dell'arte O Trattato Della Pittui|publicado=BiblioBazaar|local=US|ano=2009|isbn=978-1-103-39032-8}}
* {{citar livro|último=Chiesa|primeiro=Angela Ottino della|título=The Complete Paintings of Leonardo da Vinci|publicado=Penguin Classics of World Art series|ano=1967|isbn=978-0-14-008649-2}}
* {{citar livro|último=Cremante|primeiro=Simona|título=Leonardo da Vinci: Artist, Scientist, Inventor|publicado=Giunti|ano=2005|isbn=978-88-09-03891-2}}
* {{citar livro|último=Da Vinci|primeiro=Leonardo |editor-sobrenome =Taylor |editor-nome =Pamela|título=The Notebooks of Leonardo da Vinci|publicado=New American Library|ano=1971 |ref=harv}}
* {{citar livro|último=Giacomelli|primeiro=Raffaele|título=Gli scritti di Leonardo da Vinci sul volo|publicado=G. Bardi|local=Roma|ano=1936}}
* {{citar livro|último=Hartt|primeiro=Frederich|título=A History of Italian Renaissance Art|publicado=Thames and Hudson|ano=1970|isbn=978-0-500-23136-4}}
* {{citar livro|último=Hiroki|primeiro=Jeraldi|url=https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/220459|título=Leonardo da Vinci e a história dos estudos anatômicos no livro didático de ciências|local=Florianópolis|publicado=Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.|ano=2020}}
* {{citar livro|último=Kemp|primeiro=Martin|título=Leonardo|publicado=Oxford University Press|ano=2004|isbn=978-0-19-280644-4}}
* {{citar livro|último=Kickhöfel|primeiro=Eduardo Henrique Peiruque|url=https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-01122009-100311/pt-br.php|título=A natureza, a razão e a ciência do homem: edição dos estudos de anatomia de Leonardo da Vinci e notas para uma interpretação de sua ciência|local=São Paulo|publicado=Universidade de São Paulo.|ano=2007}}
* {{citar livro|url=http://libmma.contentdm.oclc.org/cdm/compoundobject/collection/p15324coll10/id/84801/rec/2|título=Leonardo da Vinci: anatomical drawings from the Royal Library, Windsor Castle|local=New York|publicado=The Metropolitan Museum of Art|ano=1983|isbn=978-0-87099-362-6}}
* {{citar livro|último=Nicolo|primeiro=Mario Lucertini, Ana Millan Gasca, Fernando|título=Technological Concepts and Mathematical Models in the Evolution of Modern Engineering Systems|publicado=Birkhauser|ano=2004|isbn=978-3-7643-6940-8}}
* {{citar periódico|último=Lupia|primeiro=John N.|título=The Secret Revealed: How to Look at Italian Renaissance Painting|periódico=Medieval and Renaissance Times|volume=1|número=2|data=1994|páginas=6–17|issn=1075-2110}}
* {{citar livro|último=Magnano|primeiro=Milena|título=Leonardo, collana I Geni dell'arte|publicado=Mondadori Arte|ano=2007|isbn=978-88-370-6432-7}}
* {{citar livro|último=Martindale|primeiro=Andrew|título=The Rise of the Artist|publicado=Thames and Hudson|ano=1972|isbn=978-0-500-56006-8|url=https://archive.org/details/riseofartistinmi0000mart }}
* {{citar livro|último=Missinne|primeiro=Stefaan|url=https://www.cambridgescholars.com/the-da-vinci-globe|título=The Da Vinci Globe|publicado=Cambridge Scholars Publishing|ano=2018|isbn=978-1-5275-1134-7}}
* {{citar livro|último=Müntz|primeiro=Eugène|url=https://archive.org/details/gri_33125000944930|ano=1898|título=Leonardo da Vinci. Artist, Thinker, and Man of Science. Volume 1|publicado=William Heinemann|local=London}}
* {{citar livro|último=Müntz|primeiro=Eugène|url=https://archive.org/details/gri_33125000944922|ano=1898|título=Leonardo da Vinci. Artist, Thinker, and Man of Science. Volume 2|publicado=William Heinemann|local=London}}
* {{citar livro|último=O'Malley|primeiro=Charles D.|último2=Sounders|primeiro2=J.B. de C.M.|título=Leonardo on the Human Body: The Anatomical, Physiological, and Embryological Drawings of Leonardo da Vinci. With Translations, Emendations and a Biographical Introduction|publicado=Henry Schuman|local=New York|ano=1952}}
* {{citar livro|último=Nicholl|primeiro=Charles|título=Leonardo da Vinci: The Flights of the Mind|publicado=Penguin|ano=2005|isbn=978-0-14-029681-5}}
* {{citar livro|último=Nuland|primeiro=Sherwin B.|título=Leonardo Da Vinci|publicado=Phoenix Press|ano=2001|isbn=978-0-7538-1269-3}}
* {{citar livro|último=Popham|primeiro=A.E.|título=The Drawings of Leonardo da Vinci|publicado=Jonathan Cape|ano=1946|isbn=978-0-224-60462-8}}
* {{citar livro|último=Rachum|primeiro=Ilan|título=The Renaissance, an Illustrated Encyclopedia|publicado=Octopus|ano=1979|isbn=978-0-7064-0857-7}}
* {{citar livro|último=Richter|primeiro=Jean Paul|título=The Notebooks of Leonardo da Vinci|publicado=Dover|ano=1970|isbn=978-0-486-22572-2}} volume 2: {{ISBN|0-486-22573-9}}. A reprint of [http://www.gutenberg.org/etext/5000 the original 1883 edition].
* {{citar livro|último=Rosci|primeiro=Marco|título=Leonardo|publicado=Bay Books Pty Ltd|ano=1977|isbn=978-0-85835-176-9 |ref=harv}}
* {{citar livro|último=Rossi|primeiro=Paolo|título=The Birth of Modern Science|publicado=Blackwell Publishing|ano=2001|isbn=978-0-631-22711-3}}
* {{citar livro|autor=Theophilus|título=On Divers Arts|publicado=University of Chicago Press|local=Chicago|ano=1963|isbn=978-0-226-79482-2}}
* {{citar livro|último=Wallace|primeiro=Robert|título=The World of Leonardo: 1452–1519|publicado=Time-Life Books|local=New York|ano=1972|anooriginal=1966 |ref=harv}}
* {{citar livro|último=Wasserman|primeiro=Jack|título=Leonardo da Vinci|publicado=Abrams|ano=1975|isbn=978-0-8109-0262-6}}
* {{citar livro|ref=harv|último=Vasari|primeiro=Giorgio|autorlink=Giorgio Vasari|título=Lives of the Artists|publicado=Penguin Classics |translator=George Bull|ano=1965 |anooriginal=1568|isbn=978-0-14-044164-2}}
* {{citar livro|primeiro=Hugh Ross|último=Williamson|título=Lorenzo the Magnificent|ano=1974|publicado=Michael Joseph|isbn=978-0-7181-1204-2}}
* {{citar livro|último=Winternitz|primeiro=Emanuel|título=Leonardo Da Vinci As a Musician|ano=1982|publicado=Yale University Press|local=New Haven|isbn=978-0-300-02631-3}}
* {{citar livro|último=Vezzosi|primeiro=Alessandro |translator-last=Bonfante-Warren |translator-first=Alexandra|título=Leonardo da Vinci: Renaissance Man |series='New Horizons'|publicado=Thames & Hudson Ltd|local=London|ano=1997 |edição=English translation|isbn=978-0-500-30081-7 |ref=harv}}
*{{citar livro|ultimo=Isaacson|primeiro=Walter|autorlink=Walter Isaacson|data=2017|titulo=Leonardo da Vinci|local=Rio de Janeiro|editora=[[Intrínseca]]|paginas=634|isbn=978-85-510-0257-5|url=https://openlibrary.org/books/OL27930287M/Leonardo_da_Vinci}}
{{-fim}}

== Ligações externas ==
{{correlatos
|wikiquote=Leonardo da Vinci
|commonscat=Leonardo da Vinci
}}
* {{Britannica|336408}}
* {{Cite CE1913|wstitle=Leonardo da Vinci}}
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