Mario vs. Donkey Kong [Switch Remake] - Análise

Uma rivalidade com mais de quatro décadas.

Mario VS Donkey Kong Remake - Análise - Mario vs. Donkey Kong [Switch Remake]

A rivalidade do Super Mario e do Donkey Kong é mais antiga que o próprio Super Mario.

Caso não estejas familiarizado, o Mario era a personagem jogável do jogo Donkey Kong, lançado em 1981 para as arcadas. O objetivo era derrotar Donkey Kong, que se encontrava no topo das plataformas e salvar Pauline, a primeira namorada de Mario. Para lá chegares tinhas de habilmente desviar-te de barris e inimigos.

Donkey Kong é por isso um dos jogos mais importantes na história dos videojogos, atuando não só como um dos pais dos jogos de plataformas, como também como génese de uma das maiores franquias de sempre: Super Mario (no qual Peach ocupa o lugar de Pauline e Bowser o de Donkey Kong).

Só em 2004 a chama desta velha rivalidade se voltou a acender, chegando às mãos dos jogadores Mario vs. Donkey Kong para a Game Boy Advance, um verdadeiro sucessor espiritual de Donkey Kong de 81. Preservando a alma do original, tanto na premissa que leva ao embate entre Mario e Donkey Kong, como nas mecânicas, Mario vs. Donkey Kong parte do clássico dos anos 80, somando-lhe características da franquia de Super Mario.

Mario vs. Donkey Kong apresenta por isso uma maior liberdade de movimento relativamente ao original, um level design mais engenhoso (características vindas de Super Mario), ao passo que o gameplay passa por evitar obstáculos enquanto se tenta escalar um nível vertical (características vindas do Donkey Kong), criando assim uma combinação entre plataformas e quebra-cabeças.

Mario vs Donkey Kong (2004) | Game Boy Advance

Em Mario vs. Donkey Kong, abandona-se a ideia de “donzela em apuros” como objetivo e, em vez de derrotar Donkey Kong para salvar Pauline ou Peach, a missão de Mario passa a ser a de salvar “o mundo encantado dos brinquedos”.

Passo a explicar: Donkey Kong decidiu invadir uma fábrica de brinquedos e roubar o stock de mini-figuras do Mario. Para as recuperar, o Mario terá de atravessar diversos mundos, sendo que cada um representa um bioma diferente composto por diversos níveis, progressivamente mais complexos, no que aos quebra-cabeças diz respeito.

Os jogadores que nunca tocaram no original e estão apenas habituados aos títulos clássicos de Super Mario, terão umas primeiras horas mais complicadas, pois certamente começarão a jogar com a memória muscular dos outros títulos do ‘canalizador abigodado’, habilidades estas que não te serão úteis neste jogo.

Embora seja necessária alguma destreza para manipular Mario pelos diferentes níveis, o gameplay é bastante diferente dos títulos principais da personagem. Não existe a mesma velocidade na corrida, não existe duplo salto, nem sequer existe a precisão do gameplay que está presente nos títulos da franquia.

O Super Mario tem na mesma algumas habilidades ao seu dispor que lhe permitem atravessar plataformas, derrotar inimigos e desviar de ataques - como por exemplo um pino que tanto pode ser transformado num poderoso salto, como pode servir de posição de defesa, e até existe um salto mortal atlético caso mudes de direção repentinamente. Contudo, o foco do jogo não está em apanhar moedas, em fazer o melhor tempo, ou derrotar hordas de inimigos enquanto te desvias de múltiplos ataques e saltas de plataforma em plataforma.

O foco está na resolução do quebra-cabeças que cada nível nos propõe, pelo que a navegação pelas plataformas se encontra muito mais facilitada que nos títulos principais da franquia.

Em cada nível existe uma chave e uma porta, o quebra-cabeças consiste sempre em como o jogador poderá levar a chave até à porta sem morrer uma única vez, havendo imensas adversidades pelo caminho e até diversas soluções possíveis para cada quebra-cabeças, colocando nas mãos do jogador uma “mão cheia” de abordagens.

No final de cada mundo recuperas alguns dos mini-Marios e tens um embate contra o Donkey Kong, assemelhando-se à estrutura do Donkey Kong original: ele atira-te barris e outros objetos, tens que te ir desviando, subir as plataformas e acertar-lhe com barris até ele ficar sem vida.

Para quem jogou ou conhece Mario vs. Donkey Kong, o que traz este remake de novo?

Diria que este remake, para além do excelente trabalho que faz em modernizar a experiência de gameplay, visual e sonora do original, acrescenta muitos pormenores interessantes que o elevam a uma versão superior.

Podes contar com gráficos equiparáveis ao brio que a franquia de Super Mario já nos habituou, com bonitas cutscenes que ajudam a complementar a história, e até alterações que recentes remakes já nos habituaram, como por exemplo arranjos musicais que aludem à banda-sonora original. Tudo isso está impecável e há muito pouco a apontar.

Ainda assim, aquilo que mais me divertiu, e que verdadeiramente espreme todo o potencial deste jogo, é a adição do modo cooperativo. Não está de todo perfeito - e como aspeto negativo surge-me de imediato o facto de termos apenas uma personagem disponível para o co-op: o Toad. Mas isto é apenas um preciosismo, um dedo que aponto de barriga cheia.

Muitas vezes o modo cooperativo é adicionado apenas para um jogo ter uma coisa nova, para colocar um visto numa checklist e não necessariamente com propósito. Por exemplo, Pikmin 4 é provavelmente o meu jogo favorito de 2023, mas, para mim, não conseguiu o 10 que eu lhe queria dar, porque o modo cooperativo é demasiado simples e até frustrante. Senta o jogador 2 no banco de trás e pouco mais é do que um acompanhante com poucas opções de interação.

Em contrapartida, o modo cooperativo de Mario vs. Donkey Kong concede ao segundo jogador a mesma liberdade do jogador 1. A natureza de quebra-cabeça e de contra-relógio, sobretudo nos níveis mais difíceis, é terreno fértil para criar uma experiência divertida entre dois jogadores que tentam resolver o quebra-cabeças, no menor tempo possível, tendo de se coordenar, por vezes ao milímetro, para conseguir ultrapassar as adversidades.

De sublinhar ainda que no modo cooperativo os níveis não são exatamente iguais. Cada nível passa a ter não uma, mas duas chaves, mais obstáculos, desafios e até algumas alterações nas plataformas.

Infelizmente, e apesar das muitas adições, continuo a sentir que o jogo sofre de alguns problemas do original. Jogadores mais experientes vão sentir que o jogo é, na maior parte do tempo, extremamente fácil, apresentando-se ainda com uma longevidade curta.

Para além disto, e algo que acaba por alimentar a sensação de aborrecimento após algumas horas de jogo, sobretudo se não tiveres ninguém com quem desfrutar do modo cooperativo, é a repetição do level design dentro de cada bioma, dando a sensação que alguns níveis foram criados apenas para fazer número.

Veredito

Simples, divertido e recomendado sobretudo para os mais novos ou para jogadores com pouco contacto com a franquia Super Mario. Infelizmente, estão presentes alguns dos seus mais notáveis defeitos, como é o caso do reduzido desafio na maior parte dos níveis, correndo novamente o risco de afastar os mais experientes. Como compensação, e talvez sem intenção, o remake tem um isco para esses jogadores: a adição de um robusto modo cooperativo que deixa Mario vs. Donkey Kong mais divertido e até desafiante quando jogado com um amigo, fazendo-nos esquecer das suas imperfeições.

Neste Artigo
  • Plataforma / Tópico

Mario VS Donkey Kong Remake - Análise

8
Muito Bom
O remake de Mario vs. Donkey Kong preserva a essência do original, inclusive alguns dos seus defeitos, mas apresenta-se apetrechado de fortes melhorias. Destaca-se, em particular, a adição de um robusto, divertido e até desafiante modo cooperativo, que eleva a qualidade do jogo a um novo patamar, fazendo-nos muitas vezes esquecer das suas imperfeições.
Mario vs. Donkey Kong [Switch Remake]