Marvel's Echo: Primeiras Impressões

Echo é a primeira série Marvel Spotlight.

Marvel's Echo: Primeiras Impressões

NOTA: Este texto de opinião tem por base os três primeiros episódios da série Echo do Marvel Studios. A estreia de Echo está marcada para o dia 10 de janeiro no Disney+.


O Marvel Studios atravessa tempos complicados.

A Fase 4, responsável pelo arranque da Saga do Multiverso, está longe de encontrar o mesmo sucesso que as anteriores. O público revela-se cansado da estratégia apressada que prioriza quantidade, com impacto imediato nas bilheteiras dos cinemas e nas visualizações do Disney+.

As razões parecem ser muitas e poder-se-ia discutir todos os fatores que empurram a Fase 4 para uma queda-livre. Nestas primeiras impressões vou apenas falar do que tenho sentido enquanto fã de banda-desenhada e deste Universo Cinematográfico em particular. São dois os aspetos que me fizeram perder o interesse: em primeiro lugar a falta de qualidade das histórias e, em segundo, o elevado volume de lançamentos que dilui ainda mais essa mesma qualidade.

The Marvels foi o primeiro filme do UCM que não vi no cinema. Os teasers, trailers e materiais promocionais não conseguiram gerar qualquer tipo de interesse. A história não faz nada de imprevisível, impressionante ou profundo; e as protagonistas, com exceção da Ms. Marvel, são desinteressantes. O público no geral deve ter sentido o mesmo, transformando-se por isso no filme com menos lucro na história do UCM.

No que diz respeito a séries, depois do aborrecidíssimo The Falcon and the Winter Soldier, apenas vi What If e a deliciosa segunda temporada de Loki, de resto mais nenhuma me chamou à atenção e a julgar pela reação do público, também mais nenhuma conseguiu chegar aos calcanhares das grandes WandaVision e Loki. Secret Invasion não precisa de ser mais massacrada, She-Hulk: Attorney at Law e Moon Knight falharam em conseguir a minha atenção; sobrando Ms. Marvel que é a única que ainda não vi e quero ver.

Tempos complicados exigem mudança e o Marvel Studios já percebeu a dica do público: está na altura de sair da sombra do sucesso e colocar em prática uma nova estratégia. Echo faz parte dessa mudança, sendo apresentada ao público como a primeira produção do Marvel Studios a ser lançada sob o segmento designado por 'Marvel Spotlight', no qual o público poderá encontrar projetos que podem ser desfrutados por qualquer pessoa, quer tenha ou não conhecimento das produções anteriores do Universo Cinematográfico da Marvel.

A série Echo acontece após Hawkeye e acompanha Maya Lopez, filha adotiva de Wilson Fisk que, após perceber que está a ser utilizada como ferramenta, decide abandonar a organização. Como seria de esperar, ninguém abandona o implacável Kingpin sem consequências e vê-se perseguida, com implicações para todos os que lhe são queridos.

A sinopse e os trailers poderão deixar logo dúvidas quanto ao selo Marvel Spotlight. Este pretende agrupar séries independentes, mas estreia-se como uma sequela de várias narrativas. Até onde vi, Echo é tão independente quanto algumas das séries do Marvel Studios.

É possível ver, gostar e até compreender tudo o que é necessário sem conhecimento prévio? Sim. Sabe muito melhor se tiveres todo o contexto? Claro. Echo é infinitamente mais interessante se conheceres a Maya em Hawkeye e perceberes o peso que ela carrega e de onde nasce o seu ódio por vigilantes; Echo é mais interessante se tiveres visto Daredevil, Punisher e até She-Hulk, dando-te a conhecer personagens importantes que fazem parte do mundo de Echo; Conheceres o Kingpin e do que ele é capaz, torna a sua perseguição a Echo algo muito mais empolgante.

Não acredito que Echo tenha sido produzida a pensar no Marvel Spotlight, fazendo-se sentir mais uma manobra de publicidade e de controlo de danos, do que algo verdadeiramente genuíno.

Agora, a grande questão, que certamente interessa a quem, como eu, foi perdendo interesse nas produções Marvel no decorrer da Fase 4: vale a pena ver Echo?

Echo começa muito bem. Gostei muito de como me prendeu, deixando-me acompanhar os pensamentos, origens, motivações e desenvolvimentos dos vilões. Passamos tempo com eles, ficamos a conhecê-los melhor, como estes olham para os heróis e porque olham para eles como antagonistas.

Muito disto deve-se ao guião, claro, mas também ao Vincent D'Onofrio, que continua a materializar um Kingpin fenomenal no pequeno ecrã. O Marvel Studios não descartou os incríveis alicerces que a Netflix usou para construir a personagem em Daredevil, aproximando-o daquilo que conhecemos da BD: mais ameaçador e com uma presença física muito superior.

No entanto, e conforme a história se distancia do íman de atenção que é o Kingpin e se concentra mais na Maya, e apesar da interpretação incrível de Alaqua Cox, começa-se a sentir que existe o risco de Echo não ir além daquilo que é o seu ponto de partida: a história de uma jovem, vítima das suas circunstâncias, que procura vingar-se das pessoas que a colocaram nessa posição. Em 3 episódios não consigo afirmar que conheça mais da Maya enquanto pessoa, nem consigo afirmar que a história faça algo de diferente ou inesperado dentro das narrativas de vingança.

A julgar pelos três primeiros episódios - revelando-se competente em tudo, mas excecional em nada - não sinto que Echo tenha o que é preciso para dar início à mudança do panorama atual do UCM. Também não sinto que Echo tenha capacidade para renovar a vontade de ver séries e filmes da Marvel, a quem a está a perder.

Mas, a esperança ainda não está perdida. Por entre os imensos momentos narrativos genéricos, e uma protagonista com pouca caracterização, que nos fazem sentir a ver uma série de 'domingo à tarde', existem alguns indicadores de que a qualidade da série poderá surpreender nos próximos episódios: existem boas coreografias, existem boas sequências de ação, o elenco é muito competente e existe espaço para a narrativa surpreender.

Depois destes três episódios, Echo tem duas hipóteses: reduzir-se à sua premissa ou desenvolver, demonstrando que é possível fazer algo diferente com essa base.


Insaciável curioso e consumidor de literatura, videojogos, cinema e anime. Tem preferência por uma boa história. Podes segui-lo em @Riuuzaki_23.

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